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8 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 22 ABRIL 2021 global aos alimentos é um objetivo que ainda esta- mos longe de atingir: implica reduzir o desperdício alimentar e aumentar consideravelmente a produ- ção, o que não é possível pela expansão da área de terras cultivadas. A solução passa pelo aumento da produção por hectare, sem aumentar a respetiva uti- lização de inputs . Estamudança de paradigma requer políticas públicas, desde a simples regulamentação ambiental à diferenciação dos produtos conforme a sua pegada ecológica, incentivos económicos dire- tos à produção de bens públicos ambientais pela agricultura e uma política de investigação e desen- volvimento da base científica e tecnológica necessá- ria para uma intensificação de base ecológica. Cultivar N.º 8 – Biodiversidade, junho de 2017, p.39 2 A biodiversidade é um recurso dinâmico, o que obriga a que as políticas púbicas tenham de ter flexibilidade na sua atuação. A par da necessidade de um conhe- cimento técnico e cientificamente consolidado, e de uma monitorização independente, é essencial o envolvimento das várias partes interessadas. A experiência das relações entre os normativos que regulam ou apoiam a proteção da biodiversidade e a atividade agrícola é já significativa em Portugal. Dessa experiência, retira-se que é importante ter pre- sente que existe, em simultâneo, uma tensão (entre o regulador e o utilizador) e uma oportunidade para uma parcela significativa da agricultura portuguesa, caracterizada por sistemas diversificados e exten- sivos com comprovada associação positiva com a biodiversidade. Francisco Moreira e Ângela Lomba, das Universida- des do Porto e de Lisboa, respetivamente, abordam o tema do papel da agricultura na preservação da diversidade de espécies, ecossistemas e paisagens. Salientam a importância da agricultura enquanto atividade gestora de ecossistemas de elevado valor natural para a conservação de espécies ameaçadas, 2 https://www.gpp.pt/images/GPP/O_que_disponibilizamos/Publicacoes/CULTIVAR_8/E-book/CULTIVAR_8_Biodiversidade/40/ 3 https://www.gpp.pt/images/GPP/O_que_disponibilizamos/Publicacoes/CULTIVAR_9/E_book/CULTIVAR_9_Gastronomia/24/ 4 Wendel Berry, citado no livro de Dan Barber, The Third Plate, cuja recensão é apresentada na secção III desta edição N.º 9 da Cultivar. https://www.gpp.pt/images/GPP/O_que_disponibilizamos/Publicacoes/CULTIVAR_9/E_book/CULTIVAR_9_Gastronomia/90/ 5 https://www.gpp.pt/images/GPP/O_que_disponibilizamos/Publicacoes/CULTIVAR_10/E_book/CULTIVAR_10_Trabalho_na_agricultura_e_ as_novas_tendencias_laborais/16/ destacando o efeito nefasto quer de uma intensifica- ção excessiva quer do abandono da atividade. Cultivar N.º 9 – Gastronomia, setembro de 2017, p.23 3 “ Comer é um ato incontornavelmente agrícola. ” 4 A nossa motivação para fazer este número prendeu-se com a convicção de que, por um lado, não há gastro- nomia sem produção agrícola e sem ligação ao terri- tório, pois o sabor começa no solo (ou no mar), e, por outro lado, os agricultores devem ver a gastronomia como fator de valorização da produção agrícola e de promoção das especificidades locais e regionais. Alexandra Prado Coelho, jornalista do Público, alerta para a falta de relevo que os produtores têm tido no sucesso e visibilidade crescentes da gastrono- mia portuguesa. Depois de sublinhar que é um erro separar produtores e restaurantes, a jornalista inter- roga-se sobre qual a estratégia para a promoção da gastronomia portuguesa internacionalmente. Con- clui que existem várias iniciativas dispersas que não permitem uma visão de conjunto, sendo necessária uma maior coordenação e união de esforços. Aponta ainda para a importância da transmissão de conheci- mento sobre estes temas, reforçando, em particular, a ligação entre o que se come nas escolas e os produ- tos e produtores locais. Cultivar N.º 10 – Trabalho na agricultura e as novas tendências laborais, dezembro de 2017, p.15 5 O trabalho na agricultura diferencia-se historica- mente do de outros setores pela importância do trabalho a tempo parcial e eventual e do plurirren- dimento, importância essa explicada sobretudo pelo caráter sazonal e irregular de muitas atividades agrí- colas e pela pequena dimensão da grande maioria das explorações em Portugal. A crescente externali-

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