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24 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 22 ABRIL 2021 da Europa ao abandono da agricultura, Moreira & Russo (2007) sugerem que a perda da diversidade de vertebra- dos associados a áreas agrí- colas não será compensada pelo potencial incremento de espécies associadas a matos e florestas. Estes balanços de perdas e ganhos podem, no entanto, ser muito variá- veis conforme a região geográfica (e.g. Sirami et al . 2008; Queiroz et al ., 2014; Regos et al . 2014). Também ao nível da diversidade de plantas, existem espécies cuja persistência é depen- dente da manutenção de ecossistemas agrícolas. Um exemplo ilustrativo é a diversi- dade de plantas empaisagens agrícolas do Parque Nacional da Peneda-Gerês, relativa- mente à qual Lomba et al . (2012) mostrou que 20% das espécies encontradas eram exclusivas de lameiros. À escala da União Europeia (UE), Halada et al . (2011) mostraram que nada menos do que 63 tipos de habi- tats com valor de conservação listados na Diretiva Habitats estão total ou parcialmente dependentes da manutenção de atividades agrícolas. Dada esta diversidade de impactos (positivos e nega- tivos) da agricultura sobre a biodiversidade, existem várias correntes alternativas à forma como se aborda esta relação (Tscharntke et al. 2012). Uma dessas correntes (conhecida como “land sparing” 1 ) preconiza a sepa- ração total das áreas com objetivos de produção e conservação, ou seja, a intensificação da agricultura com objetivos económicos e de produção nas áreas mais apropriadas, esquecendo completamente as questões de conservação e argumentando que, desta forma, a necessária produção de alimentos será conseguida numa área geográfica mais redu- 1 “Poupar a terra”, numa tradução literal, por oposição a “land sharing”, “partilhar a terra”. zida, sobrandomais área para a conservação da biodiver- sidade. Esta corrente ignora os valores de biodiversidade associados a áreas agríco- las mais extensivas, os quais dependem da manutenção de atividade agrícola mesmo que em áreas marginais e com pouca rentabilidade económica. Uma outra corrente (“land sharing”) advoga precisamente a manutenção destas áreas, argumentando que para além da biodiversidade, elas preservam outros ser- viços de ecossistema impor- tantes (valor cénico, produtos tradicionais, qualidade da água, etc.) que devem ser valorizados num contexto de multifuncionalidade da paisagem. Há ainda quem defenda a adoção de estraté- gias de gestão para manuten- ção da biodiversidade, mesmo em contextos agríco- las mais intensivos, numa lógica de “intensificação ecológica” (Bonmarco et al . 2013), em que elemen- tos da biodiversidade podem ser utilizados como fonte de importantes serviços para a agricultura (controlo de pragas, polinização, fertilidade do solo) que devem ser potenciados como substitutos de inputs de origem antropogénica. A intensificação ecológica tem como objetivos manter ou aumentar a produtividade, mas minimizando os impac- tos sobre o ambiente através da integração de serviços de ecossistema nos sistemas de produção agrícola. Neste momento, alguns projetos desenvolvidos no CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, Universidade do Porto) abor- dam esta temática e tentam quantificar até que ponto a biodiversidade pode ser uma importante prestadora de serviço de controlo de pragas em cul- turas como a vinha e o olival. Uma corrente (conhecida como “land sparing”) preconiza a separação total das áreas com objetivos de produção e conservação, ou seja, a intensificação da agricultura com objetivos económicos e de produção nas áreas mais apropriadas… Uma outra corrente (“land sharing”) advoga precisamente a manutenção destas áreas, argumentando que para além da biodiversidade, elas preservam outros serviços de ecossistema importantes… A intensificação ecológica tem como objetivos manter ou aumentar a produtividade, mas minimizando os impactos sobre o ambiente através da integração de serviços de ecossistema nos sistemas de produção agrícola.

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