cultivar_22_Final_PT

Tecnologia e desemprego: já aqui estivemos antes 41 do desemprego, dificilmente podem ser descritos no seu conjunto como de aumento contínuo do exército indus- trial de reserva e pauperiza- ção da classe operária. Marx falhou na sua previsão? Na realidade, as leis formuladas por Marx servem mal o objetivo da previsão. Nos termos de Marx, essas leis, incluindo a “lei geral e abso- luta da acumulação capita- lista”, estavam sempre sujeitas a modificações decorrentes de muitas circunstâncias. É portanto plausível que ao longo do século XX se tenham precisamente verificado cir- cunstâncias que contraria- ram uma tendência de facto inerente ao capitalismo. Que circunstâncias seriam essas? O que tornou possível que nos 30 anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial o crescimento da produtividade fosse acom- panhado de crescimento dos salários e da procura? Não foram certamente os meca- nismos de um mercado de trabalho ‘flexível’. Foram antes, um conjunto de dis- positivos institucionais como a legislação do trabalho, os sindicatos e a contratação coletiva, cuja origem radica em desenvolvimentos situa- dos numa esfera política que não obedece estritamente a determinantes de natureza económica. O que explica o desalinhamento dos salários e da produtividade a partir de finais da década de 1970? Entre outras cau- sas, o enfraquecimento desses mesmos dispositivos institucionais em nome da flexibilidade, determinado igualmente por dinâmicas políticas. 24 Skidelsky, Robert e Skidelsky, Edward (2013), How Much is Enough? – Money and the Good Life , Londres: Penguin Books 25 Ibid ., p. 41-42. Próximos do cumprimento do centenário do artigo de Key- nes, e portanto da consuma- ção do seu horizonte de previ- são, constatamos que Keynes se enganou. Qual foi o erro de Keynes? Segundo Robert (e Edward) Skidelsky 24 – um dos maioores conhecedores da obra de Keynes – o autor não errou nas previsões de crescimento, mas falhou rotundamente na redução do tempo de trabalho: o tempo de trabalho diminuiu efetiva- mente em média nos países capitalistas desenvolvidos, mas, se as atuais tendências se prolongarem no futuro próximo, em 2030 trabalhare- mos emmédia 35 horas e não 15 como Keynes previa. Para os Skidelsky, a explicação para o erro de previ- são de Keynes situa-se na interseção de três tipos de explicação: o prazer do traba- lho e o medo da inatividade, a necessidade e a insaciabi- lidade. Segundo eles, “o erro de Keynes foi acreditar que o amor do ganho libertado pelo capitalismo podia ser saciado com a abundân- cia, deixando as pessoas livres para gozarem os fru- tos de uma vida civilizada… [ele] não compreendeu que o capitalismo desencadearia uma nova dinâmica de cria- ção de desejos…” 25 Em suma Não sabemos se estamos ou não perante uma vaga tecnológica comparável em consequências às expe- rimentadas no passado. “Os robots podem estar por todo lado”, como noticia a comunicação social, … um conjunto de dispositivos institucionais como a legislação do trabalho, os sindicatos e a contratação coletiva, cuja origem radica em desenvolvimentos situados numa esfera política que não obedece estritamente a determinantes de natureza económica. Keynes não errou nas previsões de crescimento, mas falhou rotundamente na redução do tempo de trabalho… … três tipos de explicação: o prazer do trabalho e o medo da inatividade, a necessidade e a insaciabilidade. É portanto plausível que ao longo do século XX se tenham precisamente verificado circunstâncias que contrariaram uma tendência de facto inerente ao capitalismo. Que circunstâncias seriam essas?

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