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46 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 22 ABRIL 2021 nio demográfico de muitas áreas rurais parece inevitá- vel: nuns casos, ainda como consequência do desman- telamento do que resta das velhas sociedades rurais; noutros, como resultado de lógicas de produção que dis- pensamas populações locais, recorrendo sazonalmente a mão-de-obra proveniente de países mais ou menos longín- quos (Europa de Leste, Ásia e, mais recentemente, África Subsaariana) recrutada atra- vés de redes transnacionais. Embora suscitado por razões distintas, o despovoamento em ambos os tipos de áreas rurais é inevitável e tem uma natureza estrutural: o des- laçamento de uma interde- pendência de base territorial reciprocamente benéfica entre ecologia, comunidade e economia. O despovoamento constitui, hoje, a regra na maior parte dos municípios rurais do designado ´interior`, sendo que para muitos deles se preveem quebras demográficas superiores a 20% até 2030, valor tanto mais surpreendente quanto vários desses concelhos vêm perdendo população há várias décadas, alguns há quase 100 anos. As exce- ções abarcam três tipos de situações principais: (i) municípios que, mantendo- -se rurais, desenvolveram historicamente processos de industrialização difusa, onde atividades agrícolas, indus- triais e de serviços coexistem em contextos geográficos marcados por um povoa- mento disperso e pela fragmentação da propriedade (por exemplo, concelhos do Noroeste); (ii) municí- pios rurais com uma forte base agrícola localizados na área de influência direta de cidades de grande e mesmo média dimensão, ou seja, perto de importantes focos de consumo, de centros de conhecimento e de infraes- truturas e equipamentos especializados (por exemplo, concelhos da região Oeste); (iii) municípios rurais onde a existência de condições bio- físicas particularmente posi- tivas (solo, água) permitiram o desenvolvimento de perfis de especialização agrícola competitivos e internaciona- lizados com uma forte base local (por exemplo, parte do concelho do Fundão). A descrição sumária anterior- mente apresentada sublinha a existência de uma grande diversidade de áreas rurais, a natureza estrutural do despo- voamento tanto de áreas rurais ecologicamente mais frágeis e geograficamente mais remotas como de espaços rurais fortemente afetados por lógicas pro- dutivistas de primeira (urbano-industrial) e segunda (urbano-financeira) geração, e ainda a ocorrência de municípios rurais agrícolas ou pós-agrícolas com dinâmicas demográficas positivas associadas a con- textos particulares em termos de estrutura produtiva, tipo de povoamento, localização relativa face a centros urba- nos e condições biofísicas. Fácil se torna reconhecer que é difícil ou mesmo impossível reverter as tendências estru- turais de perda demográfica verificadas em muitos espa- ços rurais do país. A essas tendências acrescem, aliás, novos riscos e ameaças, como as alterações climáti- cas e as suas consequências em termos, por exem- plo, de agravamento de períodos de seca severa e O despovoamento constitui, hoje, a regra na maior parte dos municípios rurais do designado ´interior`, sendo que para muitos deles se preveem quebras demográficas superiores a 20% até 2030… As exceções abarcam três tipos de situações principais: (i) municípios que, mantendo-se rurais, desenvolveram historicamente processos de industrialização difusa; (ii) municípios rurais com uma forte base agrícola localizados na área de influência direta de cidades de grande e mesmo média dimensão; (iii) municípios rurais onde a existência de condições biofísicas particularmente positivas (solo, água) permitiram o desenvolvimento de perfis de especialização agrícola competitivos e internacionalizados Fácil se torna reconhecer que é difícil ou mesmo impossível reverter as tendências estruturais de perda demográfica verificadas em muitos espaços rurais do país. A essas tendências acrescem, aliás, novos riscos e ameaças, como as alterações climáticas e as suas consequências…

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