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108 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 23 AGOSTO 2021 uma abordagem única para o conjunto do setor pecuário. Assim, em regiões com produção inten- siva e baixa proporção de pastagens, os impactos ambientais negativos na água e solo são um grande desafio, em áreas com sistemas de pastagens, mas intensivos, os impactos ambientais são menores, mas a biodiversidade é limitada, enquanto em áreas mais marginais, de pastoreio extensivo, o desafio é a manutenção da pecuária, por esta ser essencial para assegurar a preservação da biodiversidade e de ecossistemas de alto valor ecológico. Noutras re- giões, é a integração da componente pecuária com a componente agrícola ou florestal que permite be- nefícios ambientais e climáticos. No que se refere aos efeitos da pecuária no clima, está-se perante um enorme desafio. O setor agrícola da União Europeia (UE-28) gerou 10% das emissões de gases de efeito de estufa (GEE), estimando-se entre 81 e 85% destes com origem na pecuária, dos quais metade provenientes da fermentação entérica dos ruminantes e da gestão de estrumes. Note-se que a intensidade das emissões depende muito das condições agroecológicas e das práticas agríco- las, podendo variar de uma proporção de 1 a 4 na mesma categoria de produto, e que as emissões de ruminantes podem ser compensadas, pelo menos parcialmente, pelo sequestro de carbono nas pas- tagens existentes, que poderá ir de 0 a 4 toneladas de carbono por hectare e por ano, dependendo da boa gestão dessas pastagens. Já a conversão de terras aráveis em novas pastagens ou em florestas pode contribuir para o armazenamento de carbono, numa proporção de 0,5 toneladas por hectare e por ano, durante os 20 primeiros anos. Em contraparti- da, a conversão de florestas e pastagens em terras aráveis origina perdas rápidas de carbono. Para além da melhor gestão das pastagens existen- tes e da conversão de terras aráveis em pastagens e florestas, outras soluções podem contribuir para a redução de GEE, como mudanças na produção de rações (com uso de leguminosas), melhor gestão do estrume (com armazenamento e aplicação deste em substituição de fertilizantes sintéticos; pela fer- mentação anaeróbica para produção de energia), melhor gestão do rebanho (idade do 1º parto, taxa de substituição do efetivo produtor), melhor saúde animal, mitigação da emissão de metano nos rumi- nantes (com aditivos na alimentação, embora tendo em atenção os resíduos que se podem originar), alimentação de precisão (adaptada a cada animal), entre outras práticas. Em termos ambientais, a concentração regional da produção animal causa poluição difusa do ar e da água. Mais de 80% do azoto de origem agrícola pre- sente em todos os ambientes aquáticos europeus estão ligados à pecuária. No entanto, o impacto depende das condições de cada local, dos sistemas utilizados, do uso da terra – com impacto menor quando há maiores proporções de pastagens. Os ruminantes podem ter um impacto positivo na biodiversidade e no carbono do solo pela manuten- ção de pastagens permanentes, sendo no entanto essencial uma boa gestão que evite a intensificação destas. A ideia corrente de que os animais, especialmente os ruminantes, são menos eficientes no uso dos recur- sos, deve ser ponderada pelo facto de estes permiti- rem que biomassa não comestível por humanos seja integrada na cadeia alimentar, contribuindo para a segurança alimentar. Acresce, que uma parte signifi- cativa da área utilizada para alimentar animais é terra marginal que não é facilmente cultivável e que fre- quentemente fornece importantes serviços de ecos- sistemas, quando se trata de pastagens bem geridas. Dos três GEE mais importantes, além do principal, o dió- xido de carbono, CO 2 , deve-se referir que o setor agrícola é responsável por 52% do total de emissões europeias de metano, CH 4 (principalmente pela pecuária e pelo cultivo de arroz) e por 74% das emissões de óxido de azoto, N 2 O (principalmente da aplicação de fertilizantes e de solos expostos). Dentro do setor agrícola, o CH 4 representa 55% e o N 2 O 43% dos GEE emitidos, pelo que os esforços devem concentrar-se em ambos para alcan- çar a ambição da UE em matéria de clima para 2030 e 2050. No entanto, enquanto as emissões de CO 2 e N 2 O, originadas de atividades humanas, devem ser reduzidas a zero, a emissão de CH 4 deve ser diminuída, mas sem ter de chegar a zero.
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