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O futuro da pecuária na UE: como contribuir para um setor agrícola sustentável? 109 O estudo aborda também as questões do bem-estar animal, do consumo de produtos animais (anual- mente, na UE-28, 69.5 kg carne e 236 kg de leite, com grandes diferenças regionais e tendência para redução) e da saúde, humana e animal. Quanto ao bem-estar animal, uma questão importante para 94% dos europeus, é reconhecida a necessidade de evolução da produção pecuária, embora a ciência deva clarificar o debate, nomeadamente propondo indicadores objetivos de bem-estar. No que se refere aos impactos na saúde humana do consumo de pro- dutos pecuários, salienta-se a necessidade de equilí- brio na avaliação dos potenciais efeitos negativos do consumo excessivo de carne e as vantagens nutricio- nais desta, a necessária precaução com o problema das doenças de origem animal que se transmitem aos seres humanos e a necessidade de combater o abuso de antibióticos na pecuária. Quanto a este último ponto, deve-se realçar a ação da União Euro- peia ao proibir o uso de antibióticos como fatores de crescimento em2006 e ao decidir interditar o seu uso profilático a partir de 2022. A avaliação dos sistemas pecuários e padrões de consumo, nomeadamente a medição dos impactos para podermos ter decisões de produção e consumo mais adequadas, é tambémmuito relevante: existem modelos que dão resultados relevantes, como a Aná- lise de Ciclo de Vida, mas que têm ainda limitações, necessitando pois de ser melhorados. Ao centrar-se no custo e no impacto da produção de alimentos vegetais versus alimentos de origem ani- mal, o debate atual dá uma visão limitada da ques- tão, quer do ponto de vista da agricultura quer do ponto de vista da nutrição. Esta abordagem tende a ser aritmética (soma dos dados de inventário de vá- rios alimentos) e a minimizar os efeitos agronómicos e ecológicos induzidos pela substituição no uso da terra, não levando em consideração a considerável variabilidade dos dados disponíveis sobre os impac- tos das mudanças de sistemas de produção e de prá- ticas de gestão. Por exemplo, a avaliação da questão da redução do consumo de produtos pecuários com recurso ao consumo de alternativas, incluindo a carne produ- zida in vitro ou os insetos requer ponderação. Desde logo, há ainda inúmeros obstáculos para conseguir produzir estas alternativas com segurança, numa escala relevante e com custos razoáveis, a que se juntam complexas questões regulatórias e a neces- sidade de avaliar o seu impacto, quer ambiental quer no uso de recursos, o que significa que estas alternativas estão ainda longe de poderem ser efe- tivas. Além disso, é preciso atender ao facto de que, se os consumidores estão maioritariamente dis- postos a consumir produtos proteicos vegetais em substituição parcial de produtos pecuários, estudos de opinião indicam que, presentemente, apenas 5% se mostram disponíveis para consumir insetos e menos ainda estarão disponíveis a consumir carne de produção in vitro . Reitera-se, assim, que as caraterísticas muito distin- tas dos sistemas pecuários, e dos territórios onde estão inseridos, implicam uma grande diversidade de serviços e desserviços, não se podendo ter por isso uma visão única de como abordar a pecuária. As alternativas possíveis devem ser ponderadas com precaução. No que se refere à evolução do setor pecuário, são mostradas as tendências passadas e como estas deram origem à situação presente, destacando-se como a partir da Segunda Guerra Mundial se procu- rou garantir a segurança alimentar, com produção suficiente a preços razoáveis, o que mudou profun- damente a pecuária tradicional, com um processo de modernização, mecanização e intensificação que, por sua vez, originou um contínuo aumento de produtividade, para o qual foi decisivo o papel da Política Agrícola Comum (PAC). Mas estamoderniza- ção implicou também uma extrema especialização e concentração, quer ao nível das explorações quer dos territórios, o que se traduziu num desligamen- to entre a produção animal e a produção vegetal e um significativo aumento do impacto ambiental e climático. Depois de 1992, reformas sucessivas alargaram os objetivos da PAC ao ambiente, e mais tarde ao clima, com algum sucesso, mas com algu- mas limitações, dado o fraco nível de ambição, que tem contudo vindo a aumentar embora seja ainda insuficiente.
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