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40 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 23 AGOSTO 2021 cialmente, no primeiro período, e com referência às pastagens permanentes extensivas de sequeiro. Este artigo aborda assim a avaliação, quantificação e valoração económica dos impactos ambientais e serviços de ecossistema das pastagens permanentes de sequeiro em Portugal, com enfoque nos sistemas silvo-pastoris do Centro e Sul. Os temas ambientais em foco são as alterações climáticas, o solo, a biodi- versidade e o ciclo do azoto, e o artigo centra-se no nosso contributo, no Instituto Superior Técnico e na sua spin-off Terraprima, para a avaliação do desem- penho ambiental destas pastagens. 1. Uma apreciação qualitativa Desde o Neolítico que, em conjunto comoutras ativi- dades comoa caça, aagriculturaeaproduçãoanimal levaramaodeclíniodemuitas espécies selvagens por competição por espaço e alteração de habitats. Foi o caso dos grandes herbívoros silvestres e dos grandes espaços de floresta primária, que se encontram hoje reduzidos a uma expressão muito inferior. A herbivo- ria, quer por herbívoros selvagens quer por domes- ticados, desempenha um papel importante no fun- cionamento dos ecossistemas, mas pode também gerar um amplo espectro de alterações ecológicas. No Mediterrâneo, a criação de campos agrícolas e de pastagens para os herbívoros domésticos contribuiu para a redução das populações de herbívoros selvagens e criou novas características paisa- gísticas, como as pastagens e os prados, que levaram ao aumento da diversidade de paisagens e espécies à escala local. Mas, à escala regional, levou a perdas de biodi- versidade significativas (Navarro e Pereira, 2012). Atualmente, a herbivoria é principalmente efetuada por espécies domésticas. De um ponto de vista eco- lógico, as pastagens (especialmente as extensivas) e os prados têm grande diversidade, pois possuem muitas gramíneas, leguminosas e outras espécies com flor. Como tal, a manutenção dos elevados ní- veis de biodiversidade observáveis nas pastagens naturais e seminaturais da Europa requer a continua- ção de uma herbivoria bem gerida (Rook et al . 2004, Teillard et al . 2016). Como resultado, a conservação da biodiversidade na Europa está, hoje, intimamen- te ligada aos agroecossistemas, estimando-se que cerca de 50% das espécies europeias estão associa- das a habitats agrícolas (EEA, 2003). O exemplo mais evidente em Portugal é o dos montados de sobro e azinho, ecossistemas dependentes dopastoreiopara a criação e manutenção de espaços abertos e hete- rogeneidades espaciais. Os sistemas baseados em pastagens têm um papel potencialmente benéfico, pois contribuempara uma reciclagem mais rápida e equilibrada de nutrientes nos ecossistemas e utilizam terras marginais impró- prias para as culturas. A produção pecuária extensiva pode ser gerida para a conservação e o incremento de alguma biodiversidade e pode contribuir para um melhor aproveitamento dos recursos hídricos, a con- servação da humidade no solo, menores amplitudes térmicas ao nível do solo, a não degradação damaté- ria orgânica produzida e amelhor metabolização dos princípios ativos do solo (dada a maior atividade mi- crobiana no mesmo). Aumenta, também, a rentabi- lidade do ecossistema e amortiza os investimentos. O controlo dos matos resultante permite um melhor aproveitamento das pastagens, e a expansão dos mesmos é controladapela su- bida do nível de fertilidade no solo e pelo pastoreio. Assim sendo, o aumento das áreas pastoreadas de forma efetiva e equilibrada pode levar à redução do risco de incêndio (através da diminuição da carga combustível associada aos matos) e à melhoria dos solos. Por outro lado, a maior parte das pastagens, em Portugal, são pobres e os seus solos encontram-se degradados, com um nível de pastoreio incipiente associado a baixa ferti- lidade do solo, elevado risco de invasão por matos e diversas espécies florestais, elevado risco de incên- dio e homogeneização da paisagem. Portugal temsido pioneiro na combinação da produ- ção animal e na promoção dos benefícios ambien- … a conservação da biodiversidade na Europa está, hoje, intimamente ligada aos agroecossistemas, estimando-se que cerca de 50% das espécies europeias estão associadas a habitats agrícolas…

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