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54 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 23 AGOSTO 2021 Esta definição está em consonância com organiza- ções internacionais como a FAO (2021a). Os efeitos positivos da AC vêm sendo amplamente estudados e divulgados pela comunidade científica há décadas: em termos de erosão (McGregor et al ., 1990), no que respeita ao aproveitamento da água (Blanco-Canqui e Lal, 2007) e respetiva qualidade (Jordan e Hut- cheon, 1997), na melhoria da biodiversidade (Valera Hernández et al ., 1997) e na luta contra as alterações climáticas (Lal, 2005; González Sánchez et a l., 2012; Carbonell Bojollo et al ., 2011). Há também estudos sobre a viabilidade económico-produtiva (Cantero et al ., 2003; Van den Putte et al ., 2010) e sobre a neces- sidade de alterar o modelo agrícola devido aos pro- blemas causados pela degradação do solo (Bakker et al ., 2007; Van-Camp, 2004). A prática agronómica mais representativa da AC em culturas anuais é a sementeira direta (SD), que em Espanha é sobretudo aplicada nos cereais de inver- no (cevada e trigo), nos cereais de primavera (milho), nas leguminosas em rotação com cereais (ervilha, ervilhaca) e nas oleaginosas (girassol). A prática agro- nómica mais representativa nas culturas permanen- tes é o recurso ao coberto vegetal, particularmente em olivais e pomares de citrinos e amendoeiras. A AC é umsistema agrícola que pode hoje considerar- -se global. A expansão da sementeira direta reflete-se na sua rápida aceitação por parte dos agricultores em todo o mundo, passando de 45 milhões de hec- tares em 1999 para mais de 200 milhões de hectares em 2021 (FAO, 2021b). A margem de crescimento é grande e esse aumento está iminente em potências mundiais como a China, ao mesmo tempo que tem havido um constante incremento de superfície em países europeus, como é o caso de Espanha. As ra- zões para isso resultam sobretudo dos benefícios económicos da prática da AC, baseados na redução drástica das operações mecanizadas, o que implica um menor consumo de combustível e de tempo de trabalho (González Sánchez et al ., 2010). Nesta ex- pansão, a confiança na manutenção da produtivida- de em comparação com os sistemas convencionais foi sublinhada por numerosos autores (Basch et al ., 2015; González Sánchez et al. , 2015; Kassam et al. , 2012). 2. Efeitos da agricultura de conservação nos aspetos ambientais, económicos e sociais Aspetos ambientais A gestão de culturas através de práticas de AC leva a umamelhoria dos ecossistemas agrícolas comclaros benefícios tanto para o solo, como para o ar e a água (Quadro 1). Quadro 1 – Principais benefícios ambientais da agricul- tura de conservação Para o solo Redução da erosão Aumento do teor emmatéria orgânica Melhoria da estrutura e da porosidade Aumento da biodiversidade Aumento da fertilidade natural Para o ar Fixação de carbono Redução das emissões de CO 2 para a atmosfera Para a água Redução do escorrimento Melhoria da qualidade das águas superficiais e subterrâneas Aumento da capacidade de retenção de água As práticas agrícolas desempenham um papel impor- tante no controlo da erosão. Por exemplo, as taxas de perda de solo são exponencialmente reduzidas como aumento do coberto vegetal (Gyssels et al. , 2005). Este dissipa a energia das gotas de chuva, minimizando o impacto direto sobre o solo, evitando a sua desinte- gração, reduzindo o escorrimento e evitando assim a perda de solo. Além disso, a decomposição das raízes favorece a abertura de canais que favorecem uma maior infiltração, reduzindo o escorrimento e, por consequência, os processos erosivos associados (Mar- tínez Raya, 2005). A eficáciadaproteçãodo solo contra a erosão será tanto maior quanto maior for a cobertu- ra e, portanto, quanto menos resíduos vegetais forem enterrados através de operações de mobilização. A matéria orgânica (MO) é um indicador do estado de saúde do solo: níveis elevados melhoram a coesão entre os diferentes elementos do solo, o que aumenta a sua força de ligação. Na AC, os resíduos das culturas
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