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62 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 23 AGOSTO 2021 a cerca de 10,7 % das emissões nacionais, em que as emissões de metano (CH 4 ) correspondem a 64.6 %, as de óxido nitroso (N 2 O) a 34,8 % e as de dióxido de carbono (CO 2 ) a 0.6 %, resultantes principalmente da fermentação entérica (51,6%), dos solos agrícolas (31.8 %) e da gestão de efluentes pecuários (13.3 %). Reforçar os primeiros e reduzir os impactos negativos dos segundos leva a alterações nos sistemas de pro- dução, o que geralmente resulta num aumento dos custos. Daí que seja essencial que os instrumentos financeiros de apoio ao setor produtivo estimulem a adoção de práticas amigas do ambiente, manten- do a viabilidade económica das explorações. Nessa medida, é fundamental a existência de indicadores validados cientificamente que permitam quantificar os impactos económicos e ambientais das várias es- tratégias a adotar. Refira-se ainda que um elemento crítico da atual reforma da Política Agrícola Comum (PAC) será a redução do impacto ambiental do setor agrícola, onde os eco-regimes são ferramentas que, junto do setor produtivo, contribuirão para a sua sus- tentabilidade económica e ambiental. A Plataforma Europeia Animal Task Force [2] resume os principais desafios enfrentados pelo setor pecuá- rio europeu emquatro domínios da sustentabilidade interdependentes, alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e consistentes com o Fórum Global para a Alimentação e a Agricultura. Para além da saúde e bem-estar animal, da seguran- ça alimentar e nutricional e dos meios de subsistên- cia e crescimento económico, destaca-se o domínio do Clima, biodiversidade e recursos naturais. Visa maximizar o potencial do setor pecuário para miti- gação das emissões de GEE e sequestro de carbono do solo, maximizar o uso, eficiência e qualidade de recursos e minimizar as perdas de nutrientes para a água e as emissões de amoníaco , potenciando a uti- lização de forragens e de novas fontes alimentares, com redução da competição direta por recursos ali- mentares entre animais e humanos e explorando os nutrientes dos estrumes e de outros coprodutos do setor agroalimentar. Outra ambição é contribuir para restaurar a biodiversidade, fomentando solos agríco- las de elevado valor natural em diferentes contextos ecológicos e económicos. Inclui melhorar as funções dos sistemas pecuários através de abordagens circu- lares emergentes e encontrar novas interações com os sistemas de produção vegetal para melhorar a efi- ciência alimentar/nutricional dos animais e reduzir as emissões de GEE. Muitos destes tópicos estão incluídos nas priorida- des de inovação do INIAV, recentemente expressos em diferentes Iniciativas emblemáticas da Agenda de Inovação Terra Futura, de onde se destacam a Agricultura Circular e a Mitigação e Adaptação às Al- terações Climáticas, onde os sistemas de produção animal são protagonistas e atuam como elo de liga- ção nos sistemas agroalimentares. Os ruminantes são recicladores e produtores de alimentos Os alimentos ingeridos pelos animais tornam-se disponíveis para a utilização metabólica depois do processo de digestão, pelo qual são disponibilizados os nutrientes em condições de serem absorvidos, ficando assim disponíveis para os diversos proces- sos metabólicos associados às funções vitais e aos processos produtivos (crescimento, gestação, pro- dução de leite, etc.). Nos ruminantes, o aparelho di- gestivo tem como característica ser composto por 4 compartimentos gástricos (rúmen, retículo, omaso e abomaso). Nos dois primeiros existe, em situação de simbiose como hospedeiro, uma comunidademuito numerosa e complexa de microrganismos composta maioritariamente por bactérias (10 10−11 mL −1 de fluido ruminal), mas que inclui também protozoários (10 5-6 mL −1 ), archaea (10 8−9 mL −1 ) e fungos (10 6 mL −1 ) e bac- teriófagos (10 7-9 mL −1 ) [3]. O meio ruminal é estritamente anaeróbio e pela atividade deste microbiota torna-se possível aos ru- minantes utilizar com muito maior eficiência do que as espécies de monogástricos alimentos ricos em fibra (pastagens, forragens, subprodutos agroindus- triais). Neste sistema são sintetizados ácidos gordos voláteis, que são absorvidos no rúmen e constituem a principal fonte de energia para os animais. Nestes processos metabólicos são produzidas quantida- des importantes de CO 2 e de hidrogénio (H 2 ). Para permitir que a comunidade microbiana presente no

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