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A produção animal e o desafio da sustentabilidade 63 rúmen se mantenha em funcionamento, o H 2 tem de ser removido domeio. Existemdiversos mecanismos para assegurar a remoção do H 2 do meio ruminal, incluindo a conversão dos ácidos gordos polinsatu- rados em formas mais saturadas (bioidrogenação) e principalmente a produção de metano (CH 4 ) por espécies procariotas altamente especializadas (me- tanogénese), pertencentes ao género archaea , que é libertado para a atmosfera através da eructação. A proteína e os compostos azotados presentes nos alimentos são degradados pelos microrganismos ru- minais em péptidos, aminoácidos e eventualmente amoníaco (NH 3 ). Desta forma, essa proteína pode ser utilizada pelos microrganismos para a síntese das suas próprias proteínas (proteína microbiana) que são digeridas no abomaso e absorvidas no intestino. O NH 3 é também absorvido na corrente sanguínea através da parede ruminal ou de outras secções do tubo digestivo, convertido em ureia no fígado e o ex- cesso eliminado na urina. Após a excreção, a ureia é rapidamente convertida em NH 3 e CO 2 , constituindo a principal fonte de emissões de NH 3 volatilizado para a atmosfera. A ineficiente utilização do azoto (N) alimentar no rúmen ou a previsão inadequada das necessidades do animal em proteína degradável ou não degradável, conducente a excesso de forne- cimento de N, estão diretamente relacionadas com as emissões de NH 3 . As especificidades da digestão dos ruminantes per- mitem que estes animais façam o aproveitamento de recursos (alimentos fibrosos) que não podem ser utilizados por outras espécies pecuárias com interesse económico, sendo reconhecidos como recicladores por natureza. Convertem alimentos de baixo valor nutritivo em proteína animal de elevada qualidade para consumo humano, a par de outros contributos importantes para as sociedades como o equilíbrio dos ecossistemas, a fertilidade dos solos, a biodiversidade e a fixação de populações, entre outros. As emissões de CH 4 e NH 3 daí resultantes são um subproduto do processo digestivo e deverão ser reduzidas tanto quanto possível, embora não pos- sam ser totalmente eliminadas. Estratégias para redução das emissões de metano O CH 4 é o segundo GEE em termos da importância no efeito global sobre o ambiente. Os valores indica- dos pela FAO indicam que a atividade pecuária origi- nou em 2013 cerca de 7.1 Gt equivalentes de CO 2 [4]. O metano contribuiu com cerca de 50 % do total das emissões e a espécie com maior peso nessas emis- sões são os bovinos (4.3 Gt equivalentes CO 2 ), par- ticularmente os bovinos para a produção de carne. É frequentemente referido que o contributo do setor agropecuário para as emissões de GEE é de 14.5 %, de acordo com as estimativas da FAO [4]. Contudo, alguns autores contestam alguns dos critérios uti- lizados para esta estimativa [5], nomeadamente: a quantificação das emissões com os transportes; o considerar que a capacidade de retenção de calor do CH 4 é 28 vezes superior ao CO 2 , não tendo em conta as diferenças no ciclo de vida dos 2 gases na atmosfera (10 anos para o CH 4 e séculos para o CO 2 ); e o não considerar o sequestro de carbono resul- tante da atividade pecuária. Revendo os dados de acordo com estes considerandos, o valor associado à atividade pecuária corresponderá a 5 % do total de emissões, dos quais 60 % têm origem na produção de ruminantes. A Comissão Europeia estabeleceu como meta para atingir a neutralidade carbónica o ano de 2050. Nesse sentido, estamos a assistir a um esforço dos vários setores da economia na descarbonização. No que se refere à atividade agropecuária, isto passa por uma alteração dos sistemas de produção, com o objetivo de diminuir o nível de emissões provenien- tes dos animais, dos estrumes e dos efluentes e de aumentar o sequestro de carbono no solo. Segundo a FAO [6], a melhoria das práticas de maneio, consi- deradas individualmente, pode reduzir as emissões de gases, principalmente CH 4 , em cerca de 30%, po- dendo o benefício global ser superior com a adoção de ações múltiplas e de soluções integradas. São descritas cinco ações práticas de fácil imple- mentação e com impactos rápidos nas emissões por sistemas pecuários, nomeadamente: aumentar a eficiência produtiva e melhorar a utilização de recur-

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