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29 Investimento e terciarização da agricultura em Portugal ANA FILIPA FERNANDES E GUILHERME AZAMBUJA Centro de Competências de Planeamento, de Políticas e de Prospetiva da Administração Pública (PlanAPP) 1. Introdução A produtividade do setor agrícola constitui uma das principais dimensões de estudo na área da agronomia. Num contexto de uma população mun- dial crescente que impulsiona as necessidades de alimentação, condicionada pela pressão sobre os ecossistemas e suas funções, bem como por um acesso a terra sujeito a uma veemente competição dos vários usos, a centralidade da produtivi- dade da agricultura é natural e inevitável. O investimento agrícola é um fator preponde- rante na produtividade, tanto na vertente pública como na privada, a par de fatores endógenos das explorações/ parcelas. Se, no passado, Portugal pos- suía uma forte presença de mão de obra agrícola, hoje 1 INE, com base nos dados provisórios das Contas Nacionais. 2 Eurostat, cálculos dos autores com base no Valor Acrescentado Bruto a preços correntes da agricultura sobre o PIB da economia. esse paradigma foi por certo invertido, sendo clara a redução dessa mão de obra. Importa lembrar que, em Portugal em 1970, o setor primário era responsá- vel por 33% do emprego e 15,6% do Produto Interno Bruto (PIB) (OECD, 1972), tendo percorrido uma tra- jetória de acentuado decréscimo desde então. Em 2020, o setor primário pesava 7,9% 1 do emprego e 1,7% 2 do PIB em Portugal. Este período acarretou uma transformação da atividade agrícola, tendo esta recorrido ao uso crescente de fatores de produção ( inputs ) industriais, assente no modelo desig- nado por químico-mecânico (Bonny e Daucé, 1989). Neste modelo, a população agrícola e a tração animal foram subs- tituídas por investimento em máquinas e equipamentos agrícolas, permitindo aumen- tar a superfície cultivada por trabalhador (Lima Santos, 2016). Se estas transformações no modelo tecnológico marcaram o setor agrícola em Portugal, hoje o setor está sujeito a uma restruturação que passa nomeadamente pelo aparecimento de explorações vocacionadas para o mercado, com alto potencial produtivo e com sistemas de produção modernos e tecnologicamente diferenciados. Esta restruturação pode implicar uma mudança no perfil de investimentos e de consumos intermédios e na repartição entre ambos.

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