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75 Investimento e outras questões na gestão agrícola JOAQUIM PEDRO TORRES Diretor-geral da Valinveste – Investimentos e Gestão Agrícola, Lda. e da Agroglobal “ Olha lá rapaz! Não tens nada para perguntar? ” Nunca esqueci essas palavras do meu pai aquando da minha primeira aventura agrícola, admirado por eu não aproveitar a sua experiência. Como ele bem sabia, o êxito da iniciativa dependia tanto do conhe- cimento (académico) trazido da “Tapada da Ajuda” como dos segredos do manejo da terra. “ Lançar semente à terra, mas que terra? Parece a mesma a quem não a conhece Pois os segredos que em seu seio encerra Só são de quem por ela desfalece ” Diz o verso de José da Câmara numa parede junto ao escritório da Valinveste, que constitui leitura obriga- tória de colaboradores e estagiários da “casa”. Aquele inevitável fracasso produtivo resultou numa inesquecível lição. As experiências seguintes, mais baseadas em traba- lho próprio do que em investimento, confirmaram a noção de que a produção agrícola em Portugal, sob um clima irregular e em solos heterogéneos, con- juga muitos fatores que ano após ano interagem de forma diferente. A experiência ajuda a resolver essa “equação” e constitui a base ideal para a aplicação dos meios que a sociedade do conhecimento conti- nuamente coloca ao nosso dispor. 1 https://eur-lex.europa.eu/resource.html?uri=cellar :ea0f9f73-9ab2-11ea-9d2d-01aa75ed71a1.0007.02/DOC_1&format=PDF, p. 2, nota 2 Ficou também claro o princípio, empresarialmente decisivo, da importância de uma vantagem com- parativa ou de um fator de diferenciação, individual ou coletivo, numa atividade com poucas barreiras de entrada e, portanto, muito concorrencial. O meu interesse pelo milho deveu-se exatamente ao facto de me ter encontrado com algumas soluções para a cultura que fugiam do padrão utilizado em Portugal. Os apoios aos agricultores da União Europeia (UE) não alteram substancialmente esta realidade, pois todos eles, de uma forma ou de outra, são levados em conta na formação dos preços, pouco influen- ciando os rendimentos. Além disso, relativamente aos outros países da UE, o nível de apoios por hectare não diferencia positiva- mente a agricultura portuguesa, antes pelo contrá- rio. Tal apenas sucede na comparação com alguns países do Leste europeu, que têm outros “argumen- tos” produtivos. “ O agricultor médio da UE ganha atualmente cerca de metade do que ganha o trabalhador m é dio da eco- nomia em geral ”, diz uma nota de rodapé da recente Estratégia do Prado ao Prato ( Farm to Fork ) 1 e tudo indica que já seria assim nos tempos de que falo. Nestas circunstâncias, surge uma importante alte- ração tecnológica na agricultura portuguesa, pro-

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