CULTIVAR 26 - Agricultura biológica e outros modos de produção sustentável

108 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 26 SETEMBRO 2022 – Agricultura biológica e outros modos de produção sustentável dade aqui é procurar alterar a narrativa que acentua a “ responsabilidade do consumidor ”, para entender que é necessário o envolvimento de toda a cadeia, o tal “ambiente”, nessas escolhas mais sustentáveis e salutares, de modo a obter uma efetiva transforma- ção dos sistemas alimentares. Todos sabemos também que uma ida ao supermer- cado ou ao café, por exemplo, mesmo para um con- sumidor preocupado e com algum poder de compra, se traduz em poucas opções realmente sustentáveis, “verdes” ou mesmo saudáveis, apesar dos múltiplos chamarizes a atestar o contrário. O panorama piora bastante para o consumidor menos prevenido ou com maiores dificuldades económicas. A liberdade de escolha no consumo pode ser bastante relativa. E se é verdade que o consumidor envia sinais ao pro- dutor com as suas opções de compra, nesta comu- nicação entre consumo e produção, e sobretudo em sentido inverso, há filtros cujo efeito distorcivo é preciso avaliar. O documento analisa as principais áreas em que é necessário atuar, apresenta com clareza as questões a que temos de dar resposta e dá exemplos de ações e políticas a implementar para o conseguir, naquilo a que chama uma “ atuação a vários níveis impulsio- nada por políticas vinculativas ” para “ criar um ‘ecos- sistema’ emmúltiplas camadas de políticas e ativida- des que se apoiammutuamente ”. (p. 13) “ O desafio da mudança de padrões de consumo alimentar paira sobre o debate sobre os sistemas alimentares. Embora se tenham feito grandes pro- gressos para garantir a disponibilidade de alimentos, o sistema alimentar europeu não é sustentável, e os atuais padrões alimentares estão profundamente implicados neste estado de coisas. As atuais dietas são uma causa importante de doença na Europa. Por outro lado, dependem de, e ajudam a perpetuar, sistemas de produção que contribuem para as crises climática e de biodiversidade, reforçam as desigualdades sociais entre produtores e consumi- dores, comprometem o acesso a alimentos de comu- nidades dos países em desenvolvimento, contribuem para os problemas de saúde globais e põememcausa o bem-estar animal .” (p. 3) “ Nas últimas décadas, a narrativa dominante em matéria de política alimentar tem-se centrado na promoção das ‘escolhas responsáveis do consumi- dor’. A abordagem baseia-se na ideia de que a sen- sibilização e a educação sobre melhores escolhas alimentares levarão as pessoas a mudarem os seus comportamentos alimentares. Este modelo isenta em grande medida a indústria alimentar e os regulado- res, colocando uma responsabilidade considerável sobre os cidadãos e os consumidores. Espera-se que estes últimos façamas escolhas alimentares ‘corretas’ – quer estejam relacionadas com objetivos de saúde, ambientais, sociais ou éticos – com base em pouco mais do que campanhas de informação ou sugestões para adotarem estilos de vida ‘verdes’ e ‘saudáveis’ .” (p. 3) “ A forma mais eficaz e equitativa de mudar os com- portamentos alimentares é alterar os fatores estrutu- rais que conduzem à escolha alimentar ” (p. 4) O meio da cadeia alimentar como ponto estratégico de intervenção (valores para a UE-27)

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