CULTIVAR 26 - Agricultura biológica e outros modos de produção sustentável

Agricultura biológica – desafios e respostas da investigação científica 25 de transmitir as suas perspetivas. Para isso, foram identificadas as dúvidas e os interesses dos agricul- tores em relação à AB, no decorrer de diversas ofi- cinas realizadas pelos diferentes parceiros, de um dia de campo na área certificada em AB da Escola Superior Agrária de Coimbra e de visitas a produto- res biológicos e sistemas de comercialização de pro- dutos biológicos de diversas regiões, complementado com a discussão de informa- ção, de forma a aumentar a taxa de conversão para AB no território de influência dos parceiros, quer através da motivação dos próprios participantes nas oficinas e visitas, quer pelo efeito que estes possam vir a ter noutros agricultores das suas comuni- dades e redes (Dinis, 2022; Guilherme, 2022; Mendes- -Moreira e Vasconcelos, 2022; Santos, 2022). 4. Conclusões A dimensão do nosso país, a diversidade eco-geo- gráfica, a biodiversidade natural, assim como a agro- -biodiversidade, aliadas à boa aceitação dos nossos produtos a nível internacional, fazem com que Por- tugal tenha a AB como uma oportunidade de revita- lização e valorização da sua agricultura. No entanto, essa transformação só é possível se houver forma- ção, investigação e disseminação, fortalecendo laços de cooperação entre os vários atores para a resolu- ção de problemas. A mudança de paradigma nos sistemas de produ- ção agrícola exige resiliência dos agricultores nos primeiros anos, bem como dos restantes elementos da cadeia de valor, que para se manterem motiva- dos e em constante atualização para fazer face aos desafios da produção e comercialização, precisam de itinerários técnicos que considerem fatores como sementes, fertilização do solo, proteção das culturas, mecanização, colheita, conservação e venda, indica- dores de avaliação (e.g. indicadores de diversidade, indicadores de transição para AB, cadeias de valor e os respetivos modelos económicos associados).  A área de produção e os recursos humanos dedi- cados à experimentação e investigação em agricul- tura biológica na ESAC encontram-se em expansão, na perspetiva de que sejam desenvolvidas novas soluções que deem resposta aos problemas reais, identificados pelos agricultores e outros atores da cadeia de valor. Reciprocamente, pretende-se que a comunidade se envolva cada vez mais, teste e avalie essas soluções técnicas e dê contri- butos. A ciência não é neutra. É um produto da sociedade, influencia-a e sofre as suas influências. As agendas de investigação e inovação são desenvolvidas em contextos sociais, económicos e polí- ticos específicos e são condicionadas por negocia- ções entre posições distintas, por vezes antagónicas. Num contexto de recursos escassos, os financiamen- tos são atribuídos preferencialmente a certas temá- ticas de investigação em detrimento de outras. Até há pouco tempo, os modos de produção alternati- vos, incluindo aqui a AB, tinham saído prejudicados desta equação. Contudo, a emergência das preocu- pações com o modelo alimentar atual e a necessi- dade de transformar o modo como os alimentos são produzidos e consumidos estão a ter reflexo nas oportunidades de financiamento da investigação, pelo que será de esperar que, nas próximas décadas, haja avanços significativos no desempenho da AB e de outros modos de produção alternativos até agora negligenciados nas agendas de investigação. Referências bibliográficas Alrøe, H. F., & Kristensen, E. S. (2002). Towards a systemic research methodology in agriculture: Rethinking the role of values in science. Agriculture and Human Values , 19(1), 3–23. Apaolaza, V., Hartmann, P., Souza, C. D., López, C. M. (2018). Eat organic – Feel good? The relationship between organic food consumption, health concern and subjective well- being. Food Quality and Preference . 63, 51-62. A ciência não é neutra. É um produto da sociedade, influencia-a e sofre as suas influências. As agendas de investigação e inovação são desenvolvidas em contextos sociais, económicos e políticos específicos e são condicionadas por negociações entre posições distintas, por vezes antagónicas.

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