CULTIVAR 26 - Agricultura biológica e outros modos de produção sustentável

62 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 26 SETEMBRO 2022 – Agricultura biológica e outros modos de produção sustentável 5. Testemunho da adoção de práticas de AC A principal razão de ter adotado, no ano de 1998, na exploração agrícola da nossa família no Alentejo, a sementeira direta em culturas de outono-inverno – cereais e leguminosas – e a mobilização na linha para o milho, o girassol e a soja foi a dificuldade e o elevado custo de mobilização dos solos da explora- ção – solos pesados, muito argilosos, que arrefecem facilmente, e, alguns deles, com uma camada imper- meável a 30 cm. As características dos solos dificul- tavam semear na época recomendada, traduzindo- -se num atraso da data de sementeira e originando perda de competitividade da exploração agrícola num contexto de enorme volatilidade dos preços dos produtos agrícolas. Acresce o facto de a exploração possuir áreas de sequeiro, tendo a implementação da AC como objetivo o aumento da eficiência do uso da água da chuva e fazer face aos frequentes perío- dos de seca da região. As práticas implementadas foram: mobilização na linha; sementeira direta; manutenção do restolho e, na maioria dos anos, manutenção do restolho e palha da cultura anterior intocados, triturados e espalhados homogeneamente à superfície do solo; e a introdução de uma cultura de cobertura todos os três anos, normalmente aveia, cuja biomassa fica igualmente à superfície do solo. As vantagens da prática da AC para a nossa explora- ção ou qualquer outra do país são as enumeradas no ponto 3, complementadas pelo facto de que, a verificar-se a implementação das propostas da APOSOLO para o PEPAC, a AC será uma resposta eficaz e sustentada para grande parte das cultu- ras efetuadas em Portugal sem que haja quebras significativas no médio-prazo da produtividade das mesmas, garantindo práticas sustentáveis na obtenção de produtos agrícolas. No caso da nossa exploração agrícola, verificamos a redução/elimi- nação da compactação do solo, a melhoria da sua estrutura e o aumento da sua matéria orgânica (0,8% para 2,5% em 24 anos), e consequentemente o aumento do sequestro de carbono; o aumento da taxa de infiltração da água e a redução da evapo- ração desta – logo, um uso mais eficiente da água da chuva e de rega (aproximadamente, em média, 8% de redução da quantidade de água utilizada por hectare, dependendo das condições climáticas); a redução da erosão do solo nas zonas mais incli- nadas da exploração; e a redução da emissão de gases de efeito de estufa, por menor consumo de combustíveis fósseis e de energia elétrica (redução de aproximadamente 40l.ha -1 ). As vantagens são muitas e não se esgotam na exploração, extravasam para a sociedade. 6. Considerações finais De acordo com a APOSOLO, para consolidar a ade- são e a adoção das práticas de Agricultura/Mobiliza- ção de Conservação em Portugal será fundamental verdadeiramente entender: • que as práticas de AC contribuem indubitavel- mente para uma alimentação e agricultura sus- tentáveis, atuais e futuras, nos seus três pilares: social; económico e ambiental; • que a adesão às práticas sustentáveis de AC em Portugal constitui uma resposta eficaz aos exi- gentes/desafiantes objetivos e metas do Pacto Ecológico Europeu/Estratégia do Prado ao Prato (F2F) da Comissão Europeia; e promover: • o apoio a Organizações de Produtores para ações de formação e transferência de conheci- mento a técnicos e agricultores; • a disponibilidade de intervenções políticas compensadoras/incentivadoras e tecnicamente viáveis capazes de verdadeiramente estimular a adesão por parte dos agricultores às práticas de AC, respeitando a zona de conforto/de risco dos agricultores; • o apoio a projetos de investigação/demonstra- ção/experimentação aplicada das práticas de AC e MC emdiferentes culturas, que possam aju- dar o agricultor a adotá-las mais rapidamente e com maior garantia de sucesso, incluindo a sua introdução em outros modos de produção como por exemplo a agricultura biológica;

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