CULTIVAR 26 - Agricultura biológica e outros modos de produção sustentável

68 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 26 SETEMBRO 2022 – Agricultura biológica e outros modos de produção sustentável ecossistemas e promoção da biodiversidade, tran- sição para o sequestro de carbono, redução do uso de pesticidas. Há muito quem reclame praticar agri- cultura regenerativa usando, contudo, práticas que pouco se distanciamda agricultura convencional por aplicarem apenas parcialmente os seus princípios 12 . Assumindo as práticas mais comuns, alguns desafios que o agricultor deste modo de produção enfrenta podem ser: compactação do solo, baixa infiltração da água nos solos e baixo crescimento radicular (devido às restrições de mobilização do solo) a curto prazo, mas compensação a médio prazo (aumento das produtividades e redução do uso de pesticidas); maior intensidade de mão-de-obra (em compensa- ção, os custos compesticidas e fertilizantes são redu- zidos). Por outro lado, este tipo de agricultura tem como mais-valia a redução das emissões associadas ao uso de energia (reduz-se o uso de combustíveis fósseis associados ao uso de maquinaria agrícola, o que também contribui para a redução dos custos de energia). Esta abordagem parece, contudo, não ter em conta alguns aspetos ambientais, como a preocupação em promover elementos paisagísticos e habitats para a vida selvagem nas explorações agrí- colas. Também não são devidamente considerados os aspetos ligados aos recursos hídricos 13 . 2.4. Intensificação sustentável A intensificação sustentável tem como objetivo principal aumentar a produtividade sem aumentar a área de produção e com reduzidos impactos no ambiente 14 , ou seja, procura aumentar a produção por unidade de fatores de produção e por unidade das externalidades ambientais, o que não garante, necessariamente, um aumento da produção de ali- 12 https://foodprint.org/blog/regenerative-labels/ 13 Lankford, B. & Orr, S. (2022). Exploring the Critical Role of Water in Regenerative Agriculture; Building Promises and Avoiding Pitfalls. Frontiers in Sustainable Food Systems . https://doi.org/10.3389/fsufs.2022.891709 14 Fraanje, W., e Lee-Gammage, S. (2018). What is Sustainable Intensification? (Foodsource: building blocks). Food Climate Research Network, University of Oxford. https://www.tabledebates.org/sites/default/files/2021-12/FCRN%20Building%20Block%20-%20What%20is%20sustai- nable%20intensification.pdf 15 Buckwell et al . 2014. Sustainable intensification of European agriculture , Rural Investment Support for Europe (RISE). https://ieep.eu/publica- tions/sustainable-intensification-of-european-agriculture 16 Attwood, S.J., Ranieri, J., Park, S.E., Kennedy, G. & Smith, P. 2016. The rise of sustainable intensification, limitations of its focus, and the need for evidence. Artigo apresentado na conferência EcoSummit Montpellier, França, 28 de agosto a 1 de setembro, 2016. mentos. Esta abordagem pode aplicar-se a várias formas de produção (desde as agroecológicas até à convencional) e procura, por sua vez, inspiração noutras abordagens. Pode basear-se, por exemplo, em práticas da agricultura biológica (como o redu- zido uso de fatores de produção externos e sintéticos e a reciclagem de nutrientes e recursos da própria exploração agrícola), da agricultura de precisão (como o uso de tecnologia para alcançar uma maior eficiência no uso de recursos e conseguir ser tem- poral e espacialmente precisa), ou em abordagens integradas como a agroecologia, recorrendo a vários métodos de diversificação das culturas na explo- ração agrícola, entre outras práticas e abordagens. Por se basear num vasto conjunto de abordagens, a intensificação sustentável é criticada por conduzir muitas vezes a diferentes interpretações do conceito, tornando-o demasiado vago para ser útil, ou então por não introduzir mudanças significativas na forma de produção 14 . Na Europa, onde a agricultura já tem elevados níveis de intensificação, tem-se advogado que o foco seja a sustentabilidade 15 . No entanto, a intensificação sustentável é limitada no seu alcance, pois preocu- pa-se sobretudo em reduzir os impactos ambientais, sem ter em conta o papel da biodiversidade e sem aproveitar o potencial dos serviços dos ecossiste- mas, focando-se limitadamente na melhoria do ren- dimento individual de uma cultura predominante na exploração agrícola e em práticas como a gestão da água e a integração de resíduos para aumentar a pro- dução das culturas 16 . Um agricultor pode, por exem- plo, converter uma área agrícola para introduzir uma cultura mais produtiva, sem aumentar a área de pro- dução, mas com efeitos adversos na biodiversidade.

RkJQdWJsaXNoZXIy NDU0OTkw