CULTIVAR 26 - Agricultura biológica e outros modos de produção sustentável
Agricultura biológica, outros modos de produção agrícola e a sustentabilidade ambiental 69 2.5. Agricultura de precisão A agricultura de precisão não é propriamente uma abordagem de agricultura sustentável, mas antes uma atividade ou técnica de suporte de produção agrícola que pode ser usada no âmbito das diferen- tes abordagens de agricultura (não necessariamente sustentável). O seu propósito é utilizar tecnologia para “ alcançar a otimização da produtividade e da qualidade dos produtos agrícolas em relação à capa- cidade produtiva de cada terra, melhor gestão dos recursos de base, uma redução nos custos e fatores de produção, e – se houver objetivos ambientais por detrás da sua aplicação “também é positivo em ter- mos de proteção ambiental ”. 17 A tecnologia requerida na agricultura de precisão tem ainda impactos a nível ambiental, pelos gran- des consumos energéticos necessários para a sua utilização 18 , e a nível económico e social. Para que não se gerem mais desigualdades no acesso a tec- nologia cara e na aquisição de conhecimento sobre o seu uso, é preciso apostar na formação e no apoio ao investimento, principalmente para os agricultores com menor poder de compra e menores conheci- mentos. Alguns dos eventuais impactos positivos que a agri- cultura de precisão possa ter estão, por exemplo, associados à redução do uso de pesticidas, fertili- zantes, água ou combustíveis fósseis. No entanto, se não existirem objetivos claros de minimização dos impactos ambientais, e não se estabelecerem metas quantificadas, as melhorias da eficiência que se con- sigam no uso de recursos podem ter como efeito aquilo que se designa por “paradoxo da eficiência”, particularmente observado no regadio 19 . Isto signi- 17 Srinivasan, A. (2006). Handbook of Precision Agriculture. Principles and Applications. Boca Raton. CRC Press. pp. 683. 18 Kritikos, M. (2017). Precision agriculture in Europe. Legal, social and ethical considerations. European Parliamentary Research Service. Scien- tific Foresight Unit (STOA). 19 Grafton, R. Q.; Williams, J.; Perry, C. J.; Molle, F.; Ringler, C.; Steduto, P.; Udall, B.; Wheeler, S. A.; Wang, Y.; Garrick, D.; Allen, R. G. (2018). The paradox of irrigation efficiency. Science , Vol. 361, Issue 6404, 748-750. https://doi.org/10.1126/science.aat9314 20 Ver também ficha de leitura nesta edição sobre Relatório do Painel de Peritos de Alto Nível sobre Segurança Alimentar e Nutrição – Práticas agroecológicas e outras abordagens inovadoras, referido na Nota 22. [Nota da equipa editorial] 21 https://www.fao.org/agroecology/home/en/ 22 WWF 2021. Farming with Biodiversity. Towards nature-positive production at scale . WWF International, Gland, Suíça. https://wwfint.awsassets. panda.org/downloads/farming_with_biodiversity_towards_nature_positive_production_at_scale.pdf fica que os agricultores ao conseguirem melhorar a eficiência no uso de um recurso, e consequente- mente verem os custos associados ao uso desse recurso diminuírem, utilizam muitas vezes essa pou- pança para investir na expansão ou intensificação da produção, o que conduz, por norma, ao aumento do consumo total daquele e/ou de outros recursos. 2.6. Agroecologia 20 As abordagens anteriormente referidas, e muitas outras associadas à sustentabilidade, baseiam-se, em certa medida, nos princípios da agroecologia. Esta é definida pela FAO como a “ abordagem inte- grada que aplica simultaneamente conceitos e prin- cípios ecológicos e sociais à conceção e gestão de sistemas agrícolas e alimentares, com vista a otimizar as interações entre plantas, animais, seres humanos e o ambiente, ao mesmo tempo que contempla dimen- sões sociais para tornar possível alcançar sistemas agroalimentares sustentáveis e equitativos ” 21 . Um dos aspetos que distingue a agroecologia das abordagens anteriores é o facto de não se basear num conjunto de práticas, mas antes num conjunto de princípios que dão orientações para a promoção de uma transição para sistemas de produção alimen- tar positivos para a natureza. Estes princípios são universais, dependem mais de recursos e processos socioecológicos (mais do que de fatores de produ- ção adquiridos) e são localmente adaptáveis, o que produz grande diversidade de estratégias agroecoló- gicas 22 . Se, emmenor escala, esta abordagemsignifica, geral- mente, menores produtividades que a agricultura convencional, investigação recente tem demons-
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