CULTIVAR 26 - Agricultura biológica e outros modos de produção sustentável

Produção sustentável de alimentos 77 aráveis e 11% a culturas permanentes. Os restantes 44,5% eram pastagens permanentes. Tal faz com que a agricultura biológica seja incapaz de responder à necessidade estimada pela FAO. O MPB é caracterizado por um baixo rendimento face à agricultura convencional [5] , que poderá ir até 34% de quebra [6] . Como já foi referido, a indústria apoia os agricultores biológicos com soluções, de modo a aumentarem a produtividade e responderem aos desafios que enfrentam. Contudo, aumentar a fra- ção da agricultura biológica pode levar a diversos problemas estruturais. Por um lado, coloca a UE numa situação em que os Estados-Membros ficam mais dependentes de importações para suprirem a procura alimentar. Por outro lado, isto significa um aumento do uso da terra fora da UE, o que poderá ter um efeito negativo ao nível da desflorestação, expor- tando, desta forma, o problema da conservação da biodiversidade, uma vez que um aumento da agri- cultura biológica levará, potencialmente, a aumentar tambéma área agrícola demodo a produzir amesma quantidade de alimentos. Alimentação saudável e segurança alimentar A segurança alimentar é um dos aspetos mais valori- zados pelos ocidentais, em geral, e pelos europeus, em particular. Os produtos da agricultura biológica são, com frequência, associados a uma alimentação saudável, muitas vezes em prejuízo dos produtos alimentares ditos convencionais. Num inquérito do Eurobarómetro realizado em 2019, foi efetuada a seguinte questão: “Qual destes tópicos, de que tenha ouvido falar, mais o preocupa quando se trata de alimentos? em primeiro lugar? e depois?”. As três primeiras respostas foram: resíduos de antibióticos, hormonas ou esteroides na carne (44%); Resíduos de pesticidas nos alimentos (39%); Poluentes ambien- tais em peixe, carne ou produtos lácteos (37%). Daqui, poderá concluir-se que os europeus têm uma certa aversão às contaminações alimentares por químicos, mas será que tal corresponde ao que efe- tivamente é praticado? Os relatórios de monitoriza- ção de alimentos relativos a resíduos de pesticidas, elaborados pela Autoridade Europeia para a Segu- rança Alimentar (AESA/EFSA) [7] , recolhem e anali- sam anualmente dezenas de milhares de amostras, sendo que, consistentemente, pelo menos 95% des- tas cumprem os limites máximos de resíduos estabe- lecidos. Estamos perante um nível de cumprimento excecional e que garante que os alimentos na Europa são dos mais seguros do mundo. Importa referir que os limites máximos de resíduos (LMR) são estabelecidos tendo em conta um prin- cípio precaucionário, dando uma margem de 100 vezes para o valor cientificamente recomendado e muitas vezes com fatores adicionais, se necessário. Fazendo uma analogia com a segurança rodoviária, quando circulamos a 120 km/h, devemos guardar uma distância do veículo da frente de, pelo menos, 60 metros. Se fosse aplicado o mesmo princípio que rege os LMR, teríamos de guardar uma distância para o veículo da frente de pelo menos seis quilómetros. Esta introdução ajuda a explicar por que razão os alimentos produzidos em MPB ganham a preferên- cia dos consumidores, numa tentativa de responder a estes receios relatados. No entanto, na realidade, tais receios são infundados, sendo os produtos ali- mentares provenientes tanto da agricultura conven- cional como da agricultura biológica perfeitamente seguros. Outro argumento prende-se com os valores nutriti- vos dos alimentos cultivados em MPB face ao modo convencional. Este aspeto também não encontra correspondência na literatura, tendo sido realiza- dos estudos com esse objetivo em 2009 [8, 9] que não encontraram evidência de diferenças entre os dois tipos de produtos agrícolas ao nível da segurança para a saúde e ao nível nutricional. Em 2022, foi publicada uma nova revisão científica [10] , que cor- robora que os alimentos produzidos em modo bio- lógico não estão menos contaminados por metais pesados, micotoxinas e bactérias que os produtos convencionais, destacando que o MPB tem menos soluções para controlar a presença de micotoxinas e de bactérias nos seus produtos, podendo este ser um motivo de preocupação para os consumidores. O mesmo estudo conclui que a evidência de que os produtos de agricultura biológica são mais seguros,

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