Socializar para a biodiversidade através da neoliberalização da PAC? 109 Conclusão: instrumentos de biodiversidade que socializammais para a governação neoliberal do que para o objetivo de proteger a biodiversidade? Este documento procurou medir a capacidade da condicionalidade e do pagamento greening para socializarem os agricultores para a proteção da biodiversidade ao nível cognitivo. O interesse deste estudo de caso justifica-se porque, em lugar de políticas de desenvolvimento sustentável promovendo abordagens participativas e concertadas, se favoreceu uma abordagem vertical e individualizada da governação, que faz parte de um registo neoliberal, com uma metodologia que usa normas e indicadores de desempenho e rastreabilidade administrativa para controlar as práticas individuais. Verificou-se que os agricultores, não se opondo abertamente ao objetivo de preservação da biodiversidade, mobilizammúltiplos recursos argumentativos para questionar tanto a racionalidade científica como a racionalidade democrática destes apoios. Estes efeitos limitados em termos de socialização para a biodiversidade são explicados em grande parte pelas questões burocráticas levantadas pelos instrumentos de gestão neoliberal utilizados. Os requisitos de controlo e rastreabilidade administrativa resultam em custos de aprendizagem e de conformidade que são difíceis de aceitar para os agricultores. Por outo lado, os mediadores da PAC focam-se essencialmente ematividades burocráticas, relativas à conformidade dos ficheiros e registos escritos para controlo administrativo. Assim, a condicionalidade e o pagamento greening socializam os agricultores para a governação neoliberal, pelo menos tanto quanto para o objetivo de proteger a biodiversidade. Através da biodiversidade, a União Europeia divulga e normaliza a utilização de instrumentos de gestão neoliberal para atuar sobre comportamentos individuais. Esta socialização, no entanto, não ocorre sem contestação por parte dos governados. A omnipresença da dimensão burocrática contribui para diluir o significado das normas e é uma verdadeira “máscara” burocrática que se instala aos olhos dos beneficiários, enfraquecendo mesmo a sua confiança nas autoridades públicas e nas suas intenções.
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