CULTIVAR27

O que pensam os agricultores 61 Os licenciamentos ao nível da produção animal são talvez os custos de contexto mais penosos que o agricultor tem hoje que suportar, não só pelo que atrás referi, mas também porque, a nível dos municípios, os custos das licenças e o grau das exigências são iguais tanto para um empreendimento industrial ou turístico como para um “telheiro” para albergar umas ovelhas ou cabras (salvo raras e honrosas exceções). Como hipotética solução deveria ser criada uma ‘via verde’ que permitisse não só agilizar toda a carga burocrática exigida aos agricultores, passível de colocar em diálogo as diversas entidades dentro dos Ministérios da Agricultura e do Ambiente, mas tambémpromover uma estreita colaboração institucional em defesa do mundo rural, sem dogmas entre estes dois ministérios.” Numa entrevista à Rádio Regional do Centro, em junho de 2022,3 Pedro Pimenta falou tambémda vida quotidiana na sua exploração, a Quinta da Cioga4: “O meu dia começa cedo, às seis da manhã [para preparar a alimentação para os animais]. Nós temos uma exploração familiar de vacas de leite, com cerca de 110 animais em ordenha [mais cerca de 100 animais: vitelas, novilhas, vacas secas] e produzimos aproximadamente 4 mil litros de leite por dia. (…) Fazemos duas ordenhas por dia.” A alimentação animal é preparada numa espécie de “bimby gigante” (Unifeed), que mistura de forma homogénea o concentrado com a forragem de silagem de milho e erva, armazenada na época para consumir ao longo do ano. É esta mistura que é dis3 https://www.radioregionalcentro.pt/noticias/regional-rural-pedro-pimenta-da-coop-agricola-de-coimbra/ 4 Quinta da Cioga, arquivos RTP, 2010: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/quinta-da-cioga/ tribuída namanjedoura para estar disponível para os animais durante todo o dia, da mesma forma que a água e, quando necessário, ventiladores / pulverizadores para arrefecer o ambiente. “Depois, há que limpar os estábulos, cuidar dos terrenos que produzem a forragem: na primavera/verão, milho de silagem e no outono/inverno feno-silagem de azevém. Ao final do dia, voltamos a fazer a ordenha. (…) É trabalhoso? É, mas é tambémapaixonante, fazemos o que gostamos. (…) Estamos de pedra e cal e os nossos filhos começam já a acompanhar-nos, ao fim-de-semana, nas férias… (…) Não se pode vir para esta atividade a pensar que se faz oito horas de trabalho por dia ou cinco dias por semana e se vai para casa”. E nem é uma questão das horas de trabalho, é uma questão de “dedicação, atenção, uma certa forma de observar os animais, de estar perto deles.”

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