Cultivar_28

38 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 28 JUNHO 2023 – Estruturas agrárias fina sobre o uso de recursos como água, energia e outros como fertilizantes, que permita apurar a eficiência no seu uso (i.e. rácio entre consumo de recursos e quantidade ou valor produzido). O retrato do setor agrícola revela uma evolução modesta nos últimos 30 anos no modelo de produção e, no caso do consumo de energia, em sentido oposto ao desejado, sobretudo se atentarmos ao que está a acontecer em diversas regiões do mundo, com novos modelos de produção, de elevada intensidade tecnológica e muito alta eficiência no uso de recursos. A premência da crise climática, sentida em quebras de produtividade e nas perdas associadas a desastres meteorológicos e climáticos, os requisitos do quadro regulamentar na União Europeia e a nível internacional, a existência de consumidores crescentemente mais exigentes e de novas regras do sistema financeiro em indicadores de reporte em matéria de Governança ambiental, social e empresarial (ESG, na sigla inglesa), com ênfase na emissão de dióxido de carbono (CO2), têm determinado que a esmagadora maioria das empresas e outras organizações coloquem o tema da transição climática, centrando-se sobretudo na energia, na sua estratégia e objetivos, com impacto nos modelos de produção. Os sistemas energético (que inclui extração e transporte de recursos energéticos, produção, transporte e distribuição de formas de energia final, e consumo final) e alimentar (que inclui produção, transporte e distribuição, consumo e destino final do desperdício alimentar) são apontados como os maiores responsáveis pela (in)sustentabilidade do Planeta, e a atual explosão de soluções de base tecnológica em ambos justifica atentarmos à sua interface. Rockstrom et al (2020) aponta o sistema alimentar como o principal impulsionador do Antropoceno. A produção de alimentos é a principal responsável por taxas sem precedentes de uso de solo (ocupa atualmente cerca de 50% da área total livre de gelo do Planeta) e de água (consome cerca de 70% do uso global de água doce) (Shukla et al, 2019). A produção de alimentos é das maiores fontes de poluição de água doce (Evans et al, 2019) devido ao uso excessivo de nitratos e fosfatos e de pesticidas (64% da área agrícola mundial em risco, Tang et al, 2021). O atual sistema alimentar global é o principal driver da perda de biodiversidade, sendo a agricultura uma ameaça conhecida para 24 000 das 28 000 (86%) espécies em risco de extinção (Benton et al, 2021). Crippa et al (2021) concluíram que o sistema alimentar global é responsável por 1/3 das emissões globais de gases com efeito de estufa (GEE), sendo a atividade agrícola e alterações de uso do solo o maior emissor. A produção de alimentos é responsável por 40% da emissão total de GEE, a alteração de uso do solo é responsável por 32%, enquanto a cadeia de abastecimento por 17% e o pós-retail (i.e. cozinha e gestão de resíduos) por 12%. De acordo com a FAO, os sistemas alimentares atuais usam cerca de 30% da energia disponível globalmente, sendo a maior parte assegurada por combustíveis fósseis. Importa notar que, do total da energia consumida pelos sistemas agroalimentares, 70% ocorre depois da produção, i.e., no transporte, processamento, embalagem, expedição, armazenamento, comercialização e preparação final. Os impactos do sistema alimentar na saúde humana estão também extensamente documentados (e.g. Poppy e Baverstock 2019; Willet et al, 2019). O manancial de informação que tem vindo a ser apurada sobre os impactos ambientais dos sistemas de produClaramente, há necessidade de melhorar e produzir informação fina sobre o uso de recursos como água, energia e outros como fertilizantes, que permita apurar a eficiência no seu uso (i.e. rácio entre consumo de recursos e quantidade ou valor produzido). Novos modelos de produção de alimentos, do uso da água, do uso do solo e de energia devem ser equacionados, bem como a reinvenção de cadeias curtas e muito curtas de transporte como modelo futuro para melhorar a sustentabilidade do sistema alimentar.

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