40 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 28 JUNHO 2023 – Estruturas agrárias como hoje as conhecemos. O nexus energia-água- -alimentos é de elevada complexidade, resultando do cruzamento entre tecnologias, recursos naturais disponíveis, hábitos culturais, valores e preferências individuais, disponibilidade económica, contexto macroeconómico, inovação e psicologia de comportamento, entre outros. Abordagens convencionais assentes em conhecimento do passado sobre o funcionamento do sistema energético, do ciclo da água e do sistema alimentar, são desadequadas para perspetivar o futuro porque: i) os sistemas humanos serão alterados por força de adaptação às condições de um clima diferente, e respostas à exigência da neutralidade carbónica; ii) os sistemas naturais, de que dependemos, entregarão os seus serviços de forma diferente devido às alterações no padrão climático global. O impacto projetado das alterações climáticas constitui uma pressão adicional à atual expectativa sobre o crescimento da procura de serviços de energia e de produção de alimentos, devido ao aumento da população e dos seus padrões de consumo e conforto. O enorme manancial de conhecimento e dados disponíveis sobre evidências atuais e projeções futuras (Arias et al, 2021) das alterações do sistema climático (e.g. défice hídrico, aumento da frequência e magnitude de fenómenos extremos), e os seus impactos sobre os sistemas naturais e humanos, tem exigido a necessidade de: 1. perspetivar a atividade humana (e.g. 30-50 anos) e o funcionamento dos sistemas naturais (e.g. 100 a 300 anos para o sistema climático), o que implica lidar com a co-evolução de sistemas interconectados, como é o caso do energético e do alimentar; 2. ter em atenção as relações efetivas e complexas (usualmente com efeitos de retroação), mais ou menos explícitas, em domínios distintos, devido a impactos de segunda e terceira ordem. Por exemplo, a alteração do padrão espacial da disponibilidade de água e temperatura tem impacto na produtividade primária dos ecossistemas que, por sua vez, afeta a produção de alimentos. A disponibilidade de água pode ser conseguida com estratégias diversas como a sua redistribuição a grandes distâncias (e.g. transvases de uma bacia hidrográfica para outra) e a produção de água doce a partir da dessalinização de água do mar (sobretudo em regiões muito áridas). Ambas as alternativas requerem uma elevada quantidade de energia, até agora na sua maioria proveniente de combustíveis fósseis, contribuindo assim para aumentar as emissões de GEE e para a alteração do sistema climático, fechando-se o ciclo retroativamente. 3. considerar múltiplas escalas, já que os sistemas energéticos e alimentares atravessam escalas distintas, do global, como a produção de formas de energia fóssil para distribuição mundial e o comércio internacional de alimentos, ao local, como a produção de electricidade com recursos renováveis disponíveis localmente ou a produção local de alimentos (e.g. urban farming) para consumo local. Assim, os impactos das alterações climáticas e as opções de adaptação e resiliência configuram riscos distintos para as comunidades. A produção de alimentos tem vindo a conhecer uma evolução extraordinária em novos modelos e tecnologias que, progressivamente, conquistam o mercado. É o caso da agricultura digital ou de precisão (e.g. smart farming, Sharma et al, 2022) apoiada em sensores e tecnologias digitais que promovem o uso mais eficiente de inputs (e.g. água, fertilizantes), da agricultura celular (Smith et al, 2022) vocacionada para a produção de proteína animal em laboratório, da tecnologia genética, em uso em várias partes do mundo (Organismos Geneticamente Modificados) em frutas e cereais, da agricultura em ambiente controlado como a hidroponia e a aeroponia. Estes Abordagens convencionais assentes em conhecimento do passado… são desadequadas para perspetivar o futuro… A produção de alimentos tem vindo a conhecer uma evolução extraordinária em novos modelos e tecnologias que, progressivamente, conquistam o mercado.
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