Cultivar_3_Alimentação sustentável e saudávell

Intensificação sustentável: um novo modelo tecnológico na agricultura 19 sistemas funcionam. Ambas poderão vir a utilizar também as biotecnologias para resolver problemas de precisão ou de substituição, respetivamente. A intensificação de base ecológica (segunda via) depende de uma provisão reforçada e resiliente de serviços de polinização, controlo biótico de pragas e doenças, fertilidade do solo e outros serviços de ecossistemas. Depende portanto de ecossistemas saudáveis e funcionais, em que se apoia para redu- zir a atual dependência da produção de alimen- tos face a inputs industriais ricos em energia, cujo preço está a aumentar. A proteção dos ecossiste- mas radica aqui não no seu valor intrínseco, mas sim no reconhecimento da nossa dependência face aos mesmos para assegurar a produção de alimen- tos numa nova era de energia mais cara em que é necessário reforçar a sustentabilidade ambiental. Note-se ainda que muitas das novas técnicas acima discutidas já existem ou estão em desenvol- vimento. O que não existe ainda é um modelo tec- nológico alternativo, que potencie um desenvolvi- mento mais rápido destas técnicas e promova a sua articulação, complementaridade e sinergia. É importante salientar ainda uma diferença rele- vante entre as duas vias estratégicas de transição para o novo modelo, no que se refere ao respetivo desenvolvimento científico e tecnológico. O melhor conhecimento da forma como os agroecossistemas funcionam (segunda via) é um bem público no sentido económico do termo. Este melhor conhecimento, uma vez disponível, pode ser utilizado gratuitamente por qualquer agricultor para melhorar o seu sistema produtivo, sendo portanto difícil a quem produziu o conhecimento remunerar o seu esforço de inves- tigação e desenvolvimento tecnológico. Porque se trata apenas de conhecimento, é difícil patenteá-lo, ou seja restringir-lhe o acesso para cobrar um preço pelo seu uso. Por isso, o investimento privado em investigação e desenvolvimento tecnológico asso- ciados à segunda via estratégica será sempre neces- sariamente limitado. Por outro lado, o aumento da eficiência na utili- zação dos inputs por aplicação mais precisa dos mesmos (primeira via) implica geralmente arte- factos, equipamentos, software ou sementes, tais como equipamento de rega gota-a-gota, semen- tes OGM, semeadores de precisão, software SIG – ou seja, bens privados, que podem ser mais facil- mente patenteáveis e vendidos para remunerar o esforço de investigação e desenvolvimento tecno- lógico. A primeira via é assim naturalmente mais atrativa para o investimento privado na investiga- ção e desenvolvimento. Esta diferença entre a natu- reza pública ou privada do output final do processo de investigação e desenvolvimento tecnológico explica o desigual nível de desenvolvimento de diversos ramos da ciência e tecnologia agronómi- cas quando o essencial do investimento em inves- tigação e desenvolvimento tecnológico é privado. Verifica-se, ainda que, de modo surpreendente, as prioridades de investi- mento público em ciência coincidem frequentemente muito de perto com as do setor privado, pelo que, ao contrário do que seria de esperar, não se desenvolve a desejada complementari- dade (divisão do trabalho) entre o público e o privado no financiamento da inves- tigação e desenvolvimento tecnológico. Esta com- plementaridade implicaria que o Estado financiasse prioritariamente investigação que gera essencial- mente bens públicos (como o conhecimento sobre …implicaria que o Estado financiasse prioritariamente investigação que gera essencialmente bens públicos (como o conhecimento sobre o funcionamento dos agroecossistemas), em que o setor privado não vai estar interessado em investir. O setor privado apostaria, por seu lado, tal como acontece na realidade, na investigação que produz essencialmente bens privados, patenteáveis.

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