O melhoramento genético florestal 101 O melhoramento do sobreiro em Portugal FILIPE COSTA E SILVA ISA – Instituto Superior de Agronomia* O melhoramento genético é uma componente- -chave de qualquer silvicultura moderna. Ao criar populações mais eficientes em termos produtivos, mais resilientes, ou populações de indivíduos com características de maior qualidade tecnológica, contribui significativamente para melhorar a qualidade das arborizações. Presentemente, em resultado do desenvolvimento da genética molecular, os programas de melhoramento mais avançados incorporam também esta ferramenta na avaliação da diversidade genética, no grau de contaminação em pomares, na planificação dos cruzamentos, na identificação de material melhorado ou na deteção de erros de etiquetagem. No entanto, os programas de melhoramento de espécies florestais lenhosas de longa rotação, como é o caso do sobreiro, permanecem menos desenvolvidos que os de espécies de rotações curtas (ex. choupos, eucaliptos) ou os de espécies coníferas. No contexto do setor florestal, os investimentos em projetos com vida útil superior a 40 anos, como os necessários para as espécies lenhosas de longa rotação, não são muito atrativos. A necessidade de melhoramento do sobreiro é reconhecida desde longa data, tendo o professor Vieira Natividade, já nos anos 30 do século passado, alertado para a falta de estudos genéticos: “Que é urgente melhorar a qualidade das nossas cortiças, e que só assim podemos atenuar a concorrência futura, é evidente. A criação de novos sobreirais, ou a regeneração dos decrépitos, utilizando plantas de origem conhecida, é a solução do problema.” Após 90 anos, não teve ainda início qualquer programa de melhoramento. As principais razões são a ausência de investimento, público ou privado, justificada pelo longo ciclo reprodutivo do sobreiro (com uma longa fase juvenil) e a sua complexa biologia reprodutiva (com auto-incompatibilidade e um elevado grau de heterozigosidade). Outra razão é o tempo necessário para obter uma avaliação precisa da qualidade da cortiça, que apenas é viável a partir da terceira extração, ou seja, geralmente em árvores com mais de 40 anos de idade. Deste modo, as primeiras iniciativas de melhoramento ocorreram apenas em 1998, através de um programa colaborativo europeu com o objetivo de estudar a variabilidade genética do Quercus suber. No âmbito deste projeto, foi instalada uma rede internacional de 17 ensaios genéticos (de proveniências e de descendências), em seis países da região mediterrânica, que cobrem a área de distribuição natural da espécie. No âmbito do projeto SuberGen+ (“Conservação e Melhoramento Genético do Sobreiro”, PDR 2020) os ensaios portugueses têm vindo a ser monitorizados e está em curso a publicação de um manual sobre a variabilidade das características adaptativas em Materiais Florestais de Reprodução de sobreiro com diferentes origens geográficas. É com base nesta caracterização dos recursos genéticos e no conhecimento da variabilidade fenotípica das diferentes proveniências, que se poderá delinear um programa de melhoramento genético para criar populações de sobreiro com as características desejáveis como por exemplo, produção de cortiça de melhor qualidade ou maior resistência à seca. * https://www.isa.ulisboa.pt/
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