Cultivar_30

36 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 30 ABRIL 2024 – Melhoramento e técnicas genómicas a interação entre a planta e o agente patogénico, o fungo Magnaphorte orizae (Ref. 10) (Figura 4). Figura 4 – Folha de planta não modificada (wild type) e linhas de plantas editadas geneticamente para silenciar o gene ERF. É visível a redução das lesões provocadas pelo agente patogénico Já existem produtos desta tecnologia no mercado internacional. Um destes produtos é o tomate GABA. Esta variedade foi autorizada pelas autoridades japonesas em 2021, tendo este tomate chegado a milhares de jardineiros, agricultores e consumidores em 2022. Esta variedade foi editada para aumentar a acumulação de ácido γ-aminobutírico ou GABA. Este composto é amplamente consumido como um suplemento que reivindica a diminuição da pressão arterial, e a melhoria do humor. Outro exemplo é o silenciamento de genes que codificam as polifenol oxidases em frutos. Quando expostos ao ar, as bananas e muitos outros frutos, como maçãs e abacates, começam a oxidar, ficando castanhos devido à atividade destas enzimas sobre os compostos fenólicos dos próprios frutos. Estas reações causam também a produção de sabores e odores desagradáveis, bem como redução na qualidade nutricional. Ao silenciar a expressão destes genes utilizando a CRISPR/Cas9, as bananas podem permanecer amarelas por mais tempo. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) deu já autorização para a comercialização destas bananas. Para muitos autores, a edição genómica permite um verdadeiro melhoramento de precisão e também a possibilidade de uma domesticação de novo das variedades cultivadas (Ref. 11). De facto, esta tecnologia, acompanhada pela cisgénese, permitirá inclusive recorrer a espécies selvagens aparentadas das variedades cultivadas e delas retirar e introduzir nas cultivares variantes alélicas úteis, ou a informação necessária para introduzir variações pontuais de características perdidas durante a domesticação e que podem ser úteis para fazer face às constantes alterações climáticas e bióticas. Em jeito de conclusão, não parece fazer sentido não se utilizar o novo conjunto de tecnologias moleculares atualmente ao nosso dispor para desenvolver cultivares que possam ajudar a humanidade a fazer face aos desafios de garantir a segurança alimentar a todos os seres humanos. Apesar de toda a discussão à volta de como se poderá distribuir melhor ou desperdiçar menos alimentos, a verdade é que será a produção agroalimentar local, reduzindo o impacto ambiental dessa produção e assegurando a manutenção das, já poucas, áreas naturais que permitirá dar essa garantia de alimentar o mundo. A capacidade atual de gerir de forma eficiente os genomas das plantas cultivadas tem que ser utilizada, de forma sábia e bondosa, é certo, para acelerar a criação de cultivares tolerantes às condições edafo-climáticas locais, aos Para muitos autores, a edição genómica permite um verdadeiro melhoramento de precisão e também a possibilidade de uma domesticação de novo das variedades cultivadas … Ao contrário dos que defendem o retorno a uma agricultura “natural”, que na realidade nunca existiu, e a processos em que a aleatoriedade e a morosidade eram a norma, temos o dever ético de utilizar as ferramentas modernas e cientificamente comprovadas para suprir as necessidades da humanidade. Figura 3 – Ramos de tomate provenientes de diferentes linhas editadas

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