O melhoramento genético florestal 95 Melhoramento genético de castanheiro RITA LOURENÇO COSTA Investigadora coordenadora, INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária* Em 2006, o INIAV iniciou um programa de melhoramento genético de castanheiro para a resistência a stresses bióticos, com especial enfoque para a doença da tinta, integrando desde o início as abordagens mais recentes de transcritómica, biotecnologia vegetal e histopatologia. A doença da tinta continua a ser uma das principais ameaças à cultura do castanheiro, responsável pela baixa produtividade dos soutos portugueses. O melhoramento genético baseia-se em cruzamentos controlados entre a espécie europeia (Castanea sativa), muito sensível a Phytophthora cinnamomi, agente causal da doença da tinta e as espécies asiáticas resistentes Castanea crenata e Castanea mollissima. O objetivo primordial do programa de investigação tem sido tentar descodificar os mecanismos de resistência das espécies asiáticas, através de uma abordagem conjunta de transcritómica, mapeamento genético e histopatologia, para transferência do conhecimento para o melhoramento da espécie europeia. Na transcritómica, foram selecionados genes de defesa, tais como recetores de reconhecimento, reforço da parede celular, vias de sinalização das hormonas do ácido salicílico e etileno/ácido jasmónico, atividade antifúngica, resposta a stress oxidativo e proteólise e acumulação de compostos fenólicos nas paredes celulares. De todos eles, o gene Cast_ Gnk2-like, que codifica uma proteína antifúngica, foi o que melhor discriminou entre os genótipos sensíveis e resistentes (Santos et al., 2017a). Desta forma, foi utilizado em estudos subsequentes de transformação genética mediada por Agrobacterium tumefaciens de linhas embriogénicas de castanheiro, bem como na purificação da proteína que codifica, para validação da sua expressão e funcionalidade (Colavolpe et al., 2023). Por associação dos fenótipos com os genótipos das descendências obtidas dos cruzamentos controlados, foram construídos mapas de ligação genética onde se identificaram zonas do genoma envolvidas na resistência (QTL – Quantitative Trait Loci) (Santos et al., 2017b) A abordagem de histopatologia possibilitou a caracterização, pela primeira vez, do processo de infeção de P. cinnamomi, a nível celular, comparando a progressão da infeção em raízes de castanheiros suscetíveis (C. sativa) com os castanheiros resistentes (C. crenata) (Fernandes et al., 2021). Para além da investigação básica ou fundamental, o programa tem também uma componente aplicada, orientada para o mercado. Foram selecionados, até ao momento, sete novos genótipos que revelaram resistência melhorada a P. cinnamomi, após inoculação de raízes de réplicas de cada genótipo, obtidas por micropropagação (clones). Três destes genótipos, com aptidão para porta-enxerto, já estão inscritos no Registo Nacional de Variedades de Fruteiras, 2ª Edição de 2023 da DGAV, e um deles, SC1202, com um pedido de proteção submetido à CPVO (Community Plant Variety Office, Instituto Comunitário de Variedades Vegetais). Ao integrar diversas abordagens científicas, o programa tem promovido avanços significativos na produção de castanheiros mais resistentes e sustentáveis, contribuindo assim para um aumento de produtividade e uma gestão mais sustentável dos soutos portugueses. Bibliografia citada Colavolpe MB, Vaz Dias F, Serrazina S, Malhó R, Lourenço Costa R. (2023) Castanea crenata Ginkbilobin-2-like Recombinant Protein Reveals Potential as an Antimicrobial against Phytophthora cinnamomi, the Causal Agent of Ink
RkJQdWJsaXNoZXIy MTgxOTE4Nw==