Cultivar_31

108 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 31 AGOSTO 2024 – Sequeiro a ocupações de solo tipo bosques de quercíneas, em que o solo não é mexido há mais de 100 anos, servindo como tal de referencial teórico para valores máximos de matéria orgânica que os solos do Mediterrâneo podem armazenar, considerando o clima exigente onde se encontram e para o caso concreto do bosque mediterrâneo. Este valor máximo encontrado indica ainda que o crescimento médio de matéria orgânica no solo, de forma natural e em clima mediterrâneo, muito dificilmente ultrapassará um acréscimo de 1% a cada 30 anos (~1.0 ton CO2eq/ ha.ano). Isto no caso de o solo não ser mobilizado e se tendencialmente se caminhar para uma sequência ecológica que promova o aparecimento de um bosque mediterrâneo. Pelos resultados apresentados podemos ainda observar que, apesar dos teores de matéria orgânica serem baixos na maioria dos solos analisados (Figura 4a), pela Figura 3d, cerca de 70% das amostras apresentam relações carbono/azoto equilibradas, ou seja, condições favoráveis para a mineralização do azoto e disponibilização do mesmo às plantas (com redução do teor de matéria orgânica no solo em consequência da sua mineralização); cerca de 15% das amostras apresentam relações carbono/azoto baixas (solos muito pobres em carbono orgânico); e cerca de 15% das amostras apresentam relações carbono/ azoto elevadas (ou seja, condições favoráveis para a imobilização do azoto). Face aos resultados apresentados, terão os solos desta região do globo, com este tipo de clima, potencial para serem usados em projetos de carbono, como sumidouros? Salvo raras exceções, o potencial de negócio associado ao armazenamento de carbono nos solos mediterrâneos é relativamente baixo quando comparado, por exemplo, com os solos da Europa Central ou da Europa do Norte. Nas geografias mediterrâneas, ter um potencial de armazenamento médio anual de 1 ton CO2eq/ha seria muito e, para valores desse género, o retorno económico só seria razoável se o preço do carbono nos mercados fosse muito elevado, nomeadamente acima dos 100 €/ton. No que ao solo diz respeito, o mesmo agricultor na Europa do Norte poderia realizar um serviço de armazenamento correspondente de carbono para o mesmo hectare 4 a 5 vezes maior face às diferenças climáticas e de solo aí existentes. Com esta diferença entre empresários, dentro da mesma Europa, vale a pena perguntar se vale mais ser pago pelo serviço ou pelo produto? Dependeria do preço do carbono no mercado, contudo, para o empresário do Norte, com maior potencial de armazenamento, pode acontecer ser mais vantajoso ser pago pelo produto; para o empresário do Sul, com menor potencial de armazenamento, talvez fosse mais compensatório receber pelo serviço, enquadrado em projetos ecossistémicos e de biodiversidade, onde o armazenamento de CO2 no solo fosse também valorizado, pois acaba por estar a realizar um serviço de combate ao avanço do deserto, que teima em aumentar todos os anos. Resta saber qual o valor que o mercado pagará por esse serviço por forma a fechar as contas. Árvores Se centrarmos o modelo de negócio nas árvores, o sequeiro mediterrâneo seria mais competitivo? E para que tipo de árvores? Julgamos que o eucalipto, apesar de ser uma máquina impressionante a sequestrar CO2 da atmosfera, está normalmente associado a um ciclo de carbono curto e, como tal, a sociedade não o irá valorizar em projetos de remoção de carbono da atmosfera. Os pinheiros bravo e manso apresentam normalmente um ciclo de carbono mais longo que o eucalipto, especialmente o último, muito utilizado na produção de pinha e que pode ter um ciclo superior a 100 anos. Todavia, do ponto de vista do mercado voluntário do carbono e de quem compra, o pinheiro faz lembrar a resina e da resina ao fogo e aos incêndios florestais é um fósforo, sendo por isso normalmente preterido na compra de créditos devido a esse risco de incêndio que a sociedade lhe atribui. Resta-nos outro tipo de espécies, normalmente de crescimento lento e com elevada longevidade, que estão altamente adaptadas ao mediterrâneo e são de alguma forma resistentes ao fogo e às pressões climáticas, ou seja, a azinheira e o sobreiro (Quercus spp.). As Figuras 4b e 4c apresentam a diversidade de NDVI e NDWI estivais encontrados em todas as herdades

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