110 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 31 AGOSTO 2024 – Sequeiro Povoamentos com idade média relativamente jovem (~60 anos) indicam-nos ainda que existe espaço de progressão para o futuro, ou seja, o stock médio de CO2eq (Figura 5d) poderá ainda ser facilmente duplicado noutro período temporal de mais 60 anos. Se os povoamentos analisados mostram que existe espaço de progressão para o sequestro, porquê proteger ou plantar mais árvores onde já existem inclusivamente povoamentos instalados? A vantagem destas espécies é mesmo essa, normalmente um povoamento equilibrado necessita de estratificação do ponto de vista etário. No mesmo local, poderemos ter as bisavós (árvores várias vezes centenárias), as avós (árvores centenárias), as mães (árvores com 60 a 100 anos), as irmãs mais velhas (árvores com 30 anos) e as irmãs mais jovens (árvores com 5 a 10 anos). Normalmente os mais jovens à sombra dos mais velhos, pois só assim se protegem do excesso de radiação estival e ao mesmo tempo criam músculo para as centenas de anos que ainda têm pela frente. Isto significa que todos os estratos etários se encontram a realizar o serviço de CO2, uns de forma mais acelerada e outros de forma mais reduzida e, de alguma maneira, são mais resilientes às agressões exteriores como as anomalias climáticas. Se no meio destas árvores existirem, espelhos de água e arbustos com elevado valor ecológico, teremos o cocktail ideal para promover outro tipo de serviços mais valiosos que o CO2, que são os serviços de biodiversidade. Podemos perguntar o porquê de escolher este tipo de espécies de crescimento lento, se poderíamos acelerar o serviço de CO2 com espécies de crescimento mais rápido. Primeiro, por serem espécies autóctones e resilientes às alterações climáticas e ao fogo, “SustainabilITY”; segundo, porque apesar de o período contratual do projeto de carbono poder ser de 30 anos (por exemplo), quando alguém decide plantar (ou proteger) espécies do género Quercus está a fazer um contracto societário por mais de 150 anos (mínimo 14 tiradas de cortiça), ou seja, a promover o “Long term retention”; terceiro, este tipo de espécies florestais e de sistemas de exploração da terra são reconhecidos por promoverem co-benefícios valiosos ao nível da biodiversidade, pois o montado é o terceiro ecossistema mais biodiverso do planeta. Nesse sentido, pode ser facilmente classificado como um Crédito Carbono +, ou seja, um crédito com mais valor no mercado voluntário de carbono devido aos co-benefícios adicionais ao nível da biodiversidade. Portugal e Espanha estariam a vender os rubis e as esmeraldas da Europa em termos de créditos de carbono e de biodiversidade, pois cumpririam todos os requisitos europeus de projetos de carbono e biodiversidade num nível muito elevado. Do ponto de vista prático e da instalação (proteção) das árvores, sugere-se a instalação (proteção) de uma densidade relativamente elevada, de aproximadamente 400 árvores/ha (5 m X 5 m). Com este número de árvores à instalação (proteção), não haverá competição umas com as outras numa fase inicial e seguramente que algumas morrerão no caminho, outras poderão ser selecionadas para sair do povoamento face a uma fraca genética, etc. Em resumo, o ideal é ter uma população elevada ao início, que se irá modelando à medida que o tempo passa por forma a obtermos um montado maduro com 100 a 200 árvores adultas por hectare. Durante o processo de crescimento, créditos do fundo de garantia do projeto poderão servir para compensar a saída ou morte de algumas árvores. Contudo, as que ficam serão aquelas que apresentam a melhor genética e as melhores condições para realizar os múltiplos serviços que a sociedade espera delas. Políticas e sustentabilidade económica Com este tipo de densidades à instalação é expectável que os empresários agrícolas possam obter um rendimento médio anual de 150 €/ha, considerando um preço do crédito de 30 €/ton CO2eq. Ou seja, o equivalente a mais uma tirada de cortiça. Se tal rendimento se concretizar, todos os proprietários terão interesse em proteger os ativos, pois será uma fonte de rendimento importante para suportar as empresas agroflorestais, algo constrangidas do ponto de vista financeiro. Apesar de o potencial de retenção de matéria orgânica no Mediterrâneo ser baixo, pode ainda somar ao valor anterior desde que se utilizem boas práticas para que o mesmo
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