Cultivar_31

o Alentejo e a Beira Baixa no início do século XIX 123 tantes no Alto Alentejo e junto da fronteira, esbatendo-se para o Sul e para o Ocidente. A falta de mão de obra é queixa frequente e fator de preponderância da ganadaria (diferente da situação de desemprego rural nos dias em que escreve Orlando Ribeiro, em finais dos anos 60). Conclusão Orlando Ribeiro conclui que a riqueza documental reunida por Silbert, a profundidade das suas interpretações e o seu esforço para apresentar de um modo coerente uma evolução tão complexa tornam a leitura muito proveitosa, referindo que as divergências de detalhe, que ele aponta, resultam de a vida rural deixar pouco espaço à História e dever ser, também, tratada por outras ciências, como a Geografia e a Etnografia. Refere, por exemplo, que se apresentam estatísticas que um economista ou geógrafo não hesitariam em pôr de lado, mas que um historiador não pode desprezar, pois, dada a escassez de informação, nenhum indício pode ser desconsiderado. Sendo impossível condensar em poucas linhas toda a riqueza da obra, Orlando Ribeiro procurou apresentar nesta recensão o que considerou essencial. O resultado foi: “Uma recensão inabitual, visto ter revestido a forma de livro e conter mais de 200 páginas (…) [onde] se apresentavam, de forma mais abreviada em relação às 1 200 páginas originais, as propostas de Silbert acompanhadas de um debate minucioso dessas mesmas propostas feitas por um dos seus interlocutores privilegiados. (…) O livro de Orlando Ribeiro é, assim, um longo diálogo 3 Fátima Sá e Melo Ferreira, ISCTE-IUL, CEHC-IUL, Dicionário de Historiadores Portugueses, Disponível em: https://dichp.bnportugal.gov.pt/ imagens/silbert.pdf (Acesso em: 29 agosto de 2024) com a obra magna de Silbert onde se percorrem as duas regiões que este elegera para o seu estudo, Beira-Baixa e Alentejo, e se discutem com minúcia as suas teses sobre as formas de propriedade e de exploração nas duas províncias consideradas e o seu respectivo respaldo jurídico, os cultivos, a criação de gado, a sua inserção nos mercados regionais, as vias de circulação e formas de comercialização dos produtos e também a estrutura social, nessa época charneira dos finais do Antigo Regime. São retomadas as temáticas relativas ao coletivismo agrário e ao seu ambíguo papel em regiões já fortemente penetradas pela agricultura e, sobretudo, pela criação de gado comerciais, em particular no que se refere ao uso dos pastos comuns. Orlando Ribeiro considerará que um dos aspectos mais originais da obra de Silbert se prende com a ‘descoberta’ da importância do coletivismo agrário no Alentejo em particular na sua parte norte, na zona de Portalegre, e a sul na região de Campo de Ourique. (…) [É um] diálogo entre geógrafo e historiador (…) [E note-se que o] recorte geográfico escolhido por Silbert para a sua tese era, na realidade, parte daquilo a que Orlando Ribeiro chamara o ‘Portugal mediterrânico’, um dos três espaços em que tinha dividido o continente português na sua obra fundamental Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico publicada em 1945.”3 Em suma, este livro, síntese de uma vastíssima obra, é muito interessante pelo retrato detalhado da situação de uma parte muito relevante de Portugal Continental, numa época específica, aos olhos de um geógrafo que escrevia nos meados do seculo XX, permitindo uma apreciação do que se foi alterando e mantendo nestas regiões.

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