13 Gerir a escassez de água na agricultura de sequeiro exige uma abordagem integrada MARIA HELENA SEMEDO Ex-Diretora-Geral Adjunta* da FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura Escassez de água num clima em mudança: um desafio para a agricultura de sequeiro A agricultura de sequeiro representa 80% do total das terras cultivadas e 96% das terras agrícolas na África subsariana. Devido à elevada variabilidade da precipitação, às longas estações secas, às secas recorrentes, aos períodos de estiagem e às inundações, a gestão da água é particularmente crucial na produção de sequeiro – e ainda mais com as alterações climáticas, que modificam o ciclo global da água, os padrões de precipitação, o escoamento fluvial e a recarga dos aquíferos. O aumento das temperaturas e dos níveis de CO2 intensifica a evapotranspiração e reduz a água do solo, o que, por sua vez, provoca stress nas plantas dos ecossistemas secos, encurta os períodos de crescimento das culturas e reduz a produtividade. O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla inglesa) refere que em 75% das áreas cultivadas a nível mundial ocorreram perdas de rendimento relacionadas com a seca e que estas aumentaram nos últimos anos. Inundações mais frequentes tiveram também impacto na produção através de danos diretos nas culturas, encharcamento e atrasos na plantação. O IPCC prevê que o contraste na precipitação média anual entre regiões secas e húmidas, bem como entre estações do ano, vai aumentar a nível mundial, com “as regiões húmidas a ficarem mais húmidas e as regiões secas a ficarem mais secas”, com menos chuvas, mas mais intensas, o que conduzirá a um aumento simultâneo de secas e inundações. Secas mais intensas e/ou mais longas vão expor as culturas de sequeiro a stress hídrico, reduzindo a produtividade e a qualidade. Chuvas mais intensas, especialmente em terrenos inclinados com solos degradados, resultarão * A Dr.ª Maria Helena Semedo deixou as suas funções como Diretora-Geral Adjunta da FAO em julho de 2024. [Nota da equipa editorial] Os constrangimentos à melhoria da produtividade dos sistemas de sequeiro diferem muito de região para região. Nas zonas áridas, a quantidade absoluta de água disponível é o principal fator limitante. Nas regiões tropicais semiáridas e sub-húmidas secas, o maior desafio é a extrema variabilidade da precipitação no tempo e no espaço. E em muitas zonas … os solos pobres … são também um fator limitante.
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