Cultivar_31

130 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 31 AGOSTO 2024 – Sequeiro Desenvolvimento O pomar tradicional de sequeiro algarvio está comumente associado a uma parte reduzida do Algarve, o Barrocal. Todavia, e como alertam Pinho et al. (Características do Pomar de Sequeirop. 152), ele está também presente no Litoral e na Serra, «embora em “versões” de si próprio mais afastadas da sua “pureza” (…)» . Integra quatro espécies arbóreas que comportam a fácil adaptação a climas secos e solos pobres, estando profundamente adaptadas às caraterísticas edafoclimáticas do local. A figueira foi uma das primeiras árvores domesticadas no Crescente Fértil, sendo uma espécie nativa na Península Ibérica. Constituiu desde sempre uma das fontes de criação de riqueza e mais-valia da agricultura algarvia: inclusivamente, o figo converteu-se no «maior alimento identitário do Algarve» (Brito, Pomar de Sequeiro do Algarve: “Tudo Um Pouco”, entre a herança e o futuro, p. 32). Comparado a um “mimo” ou até a um “pão”, o figo serviu de alimento entre a gente pobre e ajudou a sustentar os animais (idem). Neste sentido, a figueira desempenhava um papel importante na hegemonia de muitos concelhos e era um suporte das exportações. Assim, no Algarve existem cerca de uma dezena de espécies de figos, onde Silves ocupa de há muito o primeiro lugar na produção, tendo em consideração os vestígios materiais (como sementes e fragmentos de caules carbonizados) encontrados nos locais de ocupação islâmica. Consequentemente, os figos podem possuir cores diferentes de acordo com as espécies, podendo variar entre a cor verde, lilás escuro, com polpa de cor verde ou avermelhada. Podem ser consumidos frescos ou secos e são utilizados na culinária para a produção de compotas ou doces, sendo, além disso, muitas vezes utilizados para a destilação na obtenção de aguardente. Já as folhas da figueira após secagem eram usadas na alimentação do gado vacum. Contudo, e apesar de se constituírem como um rendimento base, os figueirais exigem um elevado grau de tratamento (Nobre, A Agricultura no concelho de Albufeira, p. 110). Assim, o que se tem verificado é um retrocesso na produção de figueiras, resultando em árvores cada vez mais envelhecidas. Logo, a produção de figos não alcança valores significativos e as suas potencialidades comerciais são cada vez menos exploradas. Desde a antiguidade, a alfarroba (galhosa, canela, mulata, spargale, aida e gasparinha) foi utilizada pelos egípcios para produzir uma goma no processo de mumificação, enquanto o resto da vagam seca se destinava sobretudo para a alimentação animal e humana, tendo ficado conhecida como “fava rica” (Moura e Chorondo, Alfarroba – uma indústria com tradição algarvia, p. 193). Na região algarvia, foi com o início da industrialização na década de 40 do século XX que esta árvore se tornou importante. Era também usada na produção de farinha, aguardente e xaropes, muito procurados nos mercados externos. Contrariamente às figueiras, as alfarrobeiras são de produção garantida, porque exigem poucos cuidados específicos no seu tratamento; contudo, são de menor valor. Portugal é um dos maiores produtores mundiais de alfarroba, o que «em grande medida (…) deve ao Algarve» (Santos, Contributos para a história da alfarroba no Algarve, p.77), razão que leva a que esta seja considerada «um símbolo do Algarve rural», pois é robusta e sobrevive com pouca água (p. 193). Neste contexto, e apesar das alterações de importância comercial e paisagística, a alfarroba é atualmente um produto com grande procura e valor comercial, devido ao crescente interesse que os mercados têm manifestado por este produto. Por conseguinte, o artigo de Moura e Chorondo analisa a valorização da alfarroba entrelaçada com a criação da empresa Industrial Farense, Lda., empresa que dedica o seu trabalho à produção e transformação da semente em dois dos seus derivados – a Goma e o Gérmen. Este fruto passa, então, por diferentes etapas no processo de transformação, o que abre portas não só para a valorização do mesmo, mas também para diversas potencialidades de utilização, que vão desde a panificação à indústria têxtil e farmacêutica. Assim, o atual predomínio da alfarrobeira levou a que muitos pomares fossem reconvertidos através da substituição de árvores caducas por alfarrobeiras.

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