134 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 31 AGOSTO 2024 – Sequeiro É de salientar que está igualmente em preparação um Diálogo de Alto Nível sobre a Água referente ao WASAGiii, que terá lugar em Roma, no dia 17 de outubro próximo, no âmbito da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO)iv, sendo presidido pelo Primeiro-Ministro de Cabo Verde e onde se espera a adoção da Declaração de Roma sobre Escassez de Água na Agricultura. O WASAG, referido pela ex-Diretora-geral Adjunta da FAO no artigo que abre esta edição da Cultivar, “foi concebido para reunir os principais intervenientes de todo o mundo e de diferentes setores para enfrentar o desafio coletivo de uma melhor utilização da água na agricultura de modo a garantir segurança alimentar para todos. Trata-se de uma parceria promovida pela FAO e constituída por agências governamentais, organizações internacionais, instituições de investigação, grupos de interesse e organizações profissionais e outras associações. O WASAG promove a colaboração entre os seus parceiros para o desenvolvimento e a implementação de políticas, estratégias e programas que melhorem a capacidade existente no terreno de adaptação da agricultura à escassez de água.” Conferência Ministerial Agrícola MED9 1. Documento de trabalho − Ameaça de seca no setor primário dos Estados-Membros mediterrânicos A região mediterrânica, reconhecida pelo seu clima único e pela riqueza da sua biodiversidade, enfrenta desafios significativos devido às alterações climáticas. A rede de peritos desta região para as alterações climáticas e ambientais e o Centro Comum de Investigação (JRC) da Comissão Europeia referem que a recente aceleração das alterações climáticas exacerbou problemas ambientais já existentes na bacia mediterrânica, causados sobretudo por uma combinação de alterações no uso dos solos, aumento da poluição e declínio da biodiversidade1, 2. As alterações atualmente em curso e os cenários futuros apontam consistentemente para riscos significativos e crescentes durante as próximas décadas nos domínios mais afetados (nomeadamente, ecossistemas terrestres, marinhos, costeiros, de água doce e das zonas húmidas, alimentação, saúde e segurança). Uma das questões mais prementes é a escassez de água, que tem profundas implicações para a agricultura, o bem-estar humano e a estabilidade económica. O Observatório Europeu da Seca (EDO, na sigla inglesa) revelou que a Europa enfrentou a pior seca de, pelo menos, os últimos 500 anos. Informações recentes da delegação eslovena apelam ao reforço da ação rápida, preparação e resposta da União Europeia (UE) para fazer face às consequências da seca3, enquanto as delegações portuguesa e espanhola apresentaram dados sobre a recente grave seca nos seus países4, 5. No último relatório técnico do JRC, salienta-se que as condições de seca voltaram a afetar grande parte da região mediterrânica nos últimos dois anos e que temperaturas acima da média durante longos períodos e uma sequência de ondas de calor exacerbaram o efeito de uma escassez de precipitação prolongada, afetando diretamente a humidade do solo e o crescimento da vegetação, com impactos graves já visíveis nas regiões costeiras de Espanha e na maioria das ilhas mediterrânicas1 (Figuras 1 e 2). Assim, as políticas para o desenvolvimento sustentável dos países mediterrânicos devem atenuar estes riscos e considerar opções de adaptação2. O presente documento analisa as complexidades da escassez de água provocada pelas alterações climáticas na região mediterrânica e o seu impacto na agricultura, concluindo com recomendações para a ação política e as perspetivas futuras. As alterações climáticas estão a alterar drasticamente os padrões meteorológicos no Mediterrâneo. O aumento das temperaturas altera os padrões de precipitação e as secas mais frequentes e graves tornaram-se o novo normal. Estas alterações conduziram a uma diminuição da precipitação anual e a um aumento dos fenómenos meteorológicos extremos, resultando numa menor disponibilidade de água e numa maior competição pelos recursos hídricos. As temperaturas mais elevadas aumentam as taxas de evapotranspiração, o que reduz a quantidade de água disponível para as culturas (Figura 3).
RkJQdWJsaXNoZXIy MTgxOTE4Nw==