14 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 31 AGOSTO 2024 – Sequeiro em mais escoamento superficial com maior erosão do solo e menor infiltração, reduzindo a recarga dos aquíferos. Os constrangimentos à melhoria da produtividade dos sistemas de sequeiro diferem muito de região para região. Nas zonas áridas, a quantidade absoluta de água disponível é o principal fator limitante. Nas regiões tropicais semiáridas e sub-húmidas secas, o maior desafio é a extrema variabilidade da precipitação no tempo e no espaço. E em muitas zonas – especialmente nas terras áridas – os solos pobres, frequentemente com reduzida capacidade de retenção de água, são também um fator limitante. O elevado risco de perda de rendimento relacionada com a água pode influenciar negativamente as decisões de investimento dos agricultores, incluindo os investimentos em mão de obra, sementes melhoradas e fertilizantes. As opções de gestão devem, por isso, começar por apoiar os agricultores na adoção de práticas que reduzam os riscos relacionados com a precipitação. As soluções A gestão da escassez de água nos sistemas de sequeiro deve ter como objetivo a combinação de práticas que conservem a água no solo e na paisagem, promovam a utilização sustentável e a recuperação de biodiversidade (espécies, variedades e ecossistemas) adaptada e resistente à seca e à precipitação prevista, e que considerem alternativas às culturas e/ou uma conjugação com a pecuária e a silvicultura em sistemas agroflorestais ou silvo-pastoris. Mapeamento da humidade do solo para gerir a escassez de água: A água retida no solo, aquilo a 1 https://www.fao.org/global-soil-partnership/soil-doctors-programme/about-the-programme/en/ 2 https://www.fao.org/global-soil-partnership/areas-of-work/recsoil/recsoil-home/en/ que se chama humidade do solo, é fundamental para a sobrevivência das plantas, para a obtenção de nutrientes e para permitir a atividade biológica. Controla igualmente o albedo do solo e os fluxos de calor através da evapotranspiração das plantas. É possível armazenar mais água no solo e utilizá-la de forma mais eficiente através de práticas de gestão do solo como a cobertura vegetal, a correção do teor de matéria orgânica e a redução da mobilização. Estas práticas podem melhorar o teor de humidade em 25-40% e são intensamente promovidas entre os agricultores no âmbito dos programas Global Soil Doctors1 e Soil Recarbonization2 da FAO. Apesar da sua importância, o mapeamento e a monitorização da humidade do solo ainda não estão amplamente incluídos nas ferramentas de gestão agrícola. A FAO desenvolveu o portal WaPOR (Water Productivity through Open access of Remotely sensed derived data – Produtividade da água através do acesso aberto a dados obtidos por deteção remota) para ajudar os países a monitorizar a produtividade da água e fundamentar decisões de gestão em áreas onde são necessárias melhores práticas. O WaPOR inclui agora um módulo sobre a humidade relativa do solo na zona das raízes para identificar a redução do crescimento da biomassa e planear melhor as intervenções com base nesta informação. Técnicas de captação de água: Há diversas técnicas de captação de água, incluindo técnicas tradicionais inovadoras como meias-luas, bunds e zaï, desenvolvidas por agricultores em África e no Próximo Oriente, que permitem concentrar e facilitar a infiltração de água no solo. A captação de água da chuva em reservatórios pode ser utilizada na pecuária ou como irrigação suplementar em fases e períodos críticos da vida das plantas, em particular nas fases iniciais das A gestão da escassez de água nos sistemas de sequeiro deve ter como objetivo a combinação de práticas que conservem a água no solo e na paisagem, promovam a utilização sustentável e a recuperação de biodiversidade … e que considerem alternativas às culturas e/ou uma conjugação com a pecuária e a silvicultura …
RkJQdWJsaXNoZXIy MTgxOTE4Nw==