26 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 31 AGOSTO 2024 – Sequeiro atividades e de práticas de gestão que estabeleçam um quadro de viabilidade económica2 possível, dentro do qual haverá um segundo nível de decisão, relacionado com a condução e com a dimensão de cada uma das atividades desenvolvidas, que, como veremos, assumem também importância significativa na consecução da referida viabilidade. Viabilidade, no âmbito deste texto, pressupõe também um quadro de conservação dos principais recursos utilizados nas atividades produtivas, nomeadamente solo, água e biodiversidade, por forma a manter a perspectiva de viabilidade também no longo prazo. Face à evolução recente dos parâmetros climáticos, torna-se, em muitos casos, forçoso acrescentar outra dimensão da problemática do sequeiro, relacionada com a redução nos níveis de precipitação, para o que a questão da água assume um papel central. Uma última dimensão desta problemática prende-se com o papel das políticas públicas, numa dupla vertente de (i) modelação das decisões de produção, nomeadamente ao nível da adoção de práticas de gestão deletérias para os recursos, da intensificação insustentável das atividades e, por outro lado, da indução da adoção de boas práticas e (ii) da salvaguarda dos aspectos humanos e sociais relevantes para a manutenção da vitalidade dos territórios em que estes sistemas de produção se desenvolvem. Viabilidade num clima em mudança No quadro das explorações agropecuárias de sequeiro, a laborar num quadro climático marcado por temperaturas elevadas e níveis de precipitação baixos e degressivos, parece-nos lícito afirmar que a artificialização significativa dos sistemas de produção, aumentando, por um lado, a dependência do 2 Utilizamos aqui a sistematização proposta por Avillez et al. (2019), que considera como explorações viáveis economicamente aquelas cujas receitas brutas de exploração são capazes de remunerar a totalidade dos fatores de produção próprios e adquiridos por elas utilizados. exterior e esbarrando, por outro, na fraca capacidade de controlo das variáveis mais relevantes para a produção vegetal, aumentará inevitavelmente o risco associado à produção e porá em causa a viabilidade económica dessas mesmas explorações. Assim, será razoável concluir que a redução do risco para níveis compatíveis com a manutenção de um quadro de viabilidade económica, num contexto de mudança climática, a que se junta uma elevada volatilidade dos mercados dos fatores de produção, nomeadamente o dos alimentos para animais, poderá estar associada, por um lado, à otimização do aproveitamento dos recursos endógenos das explorações e, por outro, à redução da dependência do exterior ou, dito de outra forma, da manutenção de um nível elevado de autonomia face ao exterior. Traduzindo estas linhas estratégicas para o quadro das explorações agropecuárias, acabamos por ter uma analogia com o conceito de pecuária extensiva, tal como definido no âmbito da atividade do Centro de Competências do Pastoreio Extensivo, como um sistema de produção animal baseado no uso de pastagens permanentes e co-produtos agrícolas pastoreáveis, com baixa utilização de fatores de produção externos, que fomenta os serviços dos ecossistemas, combate a desertificação e cria condições económicas para a fixação de população no território. Dito de outro modo, uma das estratégias possíveis para assegurar um quadro de viabilidade económica das explorações agrícolas de sequeiro poderá passar pelo reforço do seu carácter extensivo, focando-as no aproveitamento dos recursos endógenos e assegurando um ambiente produtivo que assegure a salvaguarda dos recursos naturais em cima dos quais se exercem as suas atividades. Esta analogia entre viabilidade e extensividade, particularmente ao nível da produção animal, pode coli- … uma das estratégias possíveis para assegurar um quadro de viabilidade económica das explorações agrícolas de sequeiro poderá passar pelo reforço do seu carácter extensivo, focando-as no aproveitamento dos recursos endógenos…
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