Cultivar_31

O sequeiro do Sul, viabilidade económica, perspectivas e políticas 27 dir com alguns estereótipos consolidados ao longo das últimas décadas, fruto, em larga medida, da importação de termos utilizados na regulamentação agrícola comunitária, para a linguagem comum. Um desses equívocos é precisamente a dissociação do carácter extensivo da autonomia alimentar, quase como se bastasse deter animais ao ar livre. Outro, igualmente perverso, é o da aceitação, relativamente acrítica, da impossibilidade de as explorações extensivas poderem ser viáveis. Principais obstáculos à viabilização das explorações extensivas de sequeiro A importância das pastagens e do solo saudável na viabilidade dos sistemas extensivos de sequeiro Na ótica das explorações de sequeiro, é relativamente consensual considerar que a fonte alimentar que minimiza o custo da alimentação animal é a pastagem. No âmbito deste texto, considerando a utilização típica das pastagens do território em questão, poderemos ainda considerar as exportações de nutrientes como residuais, uma vez que, como norma, essas pastagens são maioritariamente utilizadas para a alimentação do efetivo adulto. De facto, no que respeita aos animais destinados ao mercado, estes ou são vendidos antes da fase de engorda – muitas vezes logo após o desmame –, ou, sendo engordados, tendem a sê-lo em ambiente confinado e, portanto, fora das pastagens. Neste quadro, se tomarmos, num exercício teórico, uma área de pastagem com gestão estabilizada, isto é, sem grandes intervenções de fundo, poderemos considerar como encargos variáveis, no máximo, 3 Considerando os valores constantes na bibliografia disponível (Parreira e Garrido (1987) e Ferreira et al. (2010)) para a produtividade das pastagens dos concelhos de Mértola e Castro Verde, temos valores a variar entre os 603 kg MS/ha e os 3 227 kg MS/ha e um valor médio de 1 915 kg MS/ha. Tendo em conta o quadro de mudança climática sentido nas duas últimas décadas e por uma questão de segurança nos cálculos, consideraremos um valor equivalente a 80% daquele valor médio, ou seja, 1 532 kg MS/ha. a realização de uma calagem (1 500 kg/ha) periódica, com periodicidade longa (quatro anos), o que originará, a preços de 2022, um encargo anual próximo de 28 €/ha, o que, por sua vez, considerando uma produtividade de 1 532 kg MS/ha3, origina um custo a rondar 0,02 €/kg MS (matéria seca). Paralelamente, se considerarmos uma conta de cultura típica para a produção forrageira, no mesmo quadro edafoclimático e assumindo uma produção de biomassa colhida de 2,5 vezes a produção da pastagem, ou seja, 1 532 kg MS/ha x 2,5 = 3 830 kg MS/ha, teremos, ainda a preços de 2022, um custo a rondar os 534 €/ha, ou seja, um custo unitário próximo de 0,14 €/kg. Constatamos assim que, em princípio, os resultados das explorações serão tanto melhores quanto maior for a cobertura das necessidades alimentares pela produção das pastagens, tendo a substituição da área de pastagem por forragem efeitos negativos sobre esses mesmos resultados económicos. Esta constatação é reforçada pela importância que a despesa com a alimentação do efetivo adulto assume nos encargos variáveis totais, podendo facilmente assumir valores da ordem dos 60%, na produção de ovinos. Apesar do maior custo unitário das forragens, a generalidade dos sistemas de produção, pela forma como estão organizados, não pode dispensar algum nível de produção forrageira, por um lado, porque serve para suprir ou complementar as necessidades alimentares de determinados grupos de animais, em determinadas fases do ciclo produtivo e, por outro, porque é utilizada para suprir défices, relativamente frequentes, na produção das pastagens. … os resultados das explorações serão tanto melhores quanto maior for a cobertura das necessidades alimentares pela produção das pastagens, tendo a substituição da área de pastagem por forragem efeitos negativos sobre esses mesmos resultados económicos.

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