40 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 31 AGOSTO 2024 – Sequeiro as que ocorrem nalguns sistemas de sequeiro portugueses, concorrencialmente pouco competitivas com outras regiões do mundo ou com sistemas produtivos mais intensivos. Contudo, têm surgido nichos de mercado associados a determinados estilos de vida, ao interesse e à generalização de culinárias do mundo, na procura do gourmet ou do luxo, ou de determinadas opções ou requisitos alimentares (ex. sem glúten, veganismo) que permitem que algumas culturas possam alcançar valores de mercado mais elevados e, por essa via, compensar as limitações ao nível da produtividade. Associar o produto a uma região, estilo de vida, etc., tem também tido sucesso na promoção e valorização desse tipo de alimentos. Exemplos dessas culturas incluem o trigo barbela, o trigo espelta, o sorgo, o grão-de-bico, as lentilhas, o feijão-frade, as ervilhas ou o teff. A consideração do leque de culturas a utilizar em contexto de alterações climáticas deve também ponderar a introdução de culturas hoje “estranhas” ao contexto agrícola português (com o devido cuidado com a introdução de espécies invasoras!). Para inspiração podemos olhar à nossa volta: haverá condições para um palmeiral de tâmaras em Portugal? Será de considerar um apoio específico a este tipo de inovação no contexto da Política Agrícola Comum (PAC)? Intervir no solo A agricultura de sequeiro desenvolve-se no solo. Esta verdade de La Palice pretende apenas relembrar a importância do solo também neste contexto. A capacidade de retenção de água, a velocidade de infiltração, a resistência à erosão e os nutrientes que este é capaz de fornecer ou reter são características que podem ser modificadas e que dependem criticamente da forma como o solo é gerido. Num contexto de alterações climáticas, com menos dias de chuva, mas com mais dias de precipitação intensa e muito intensa, importa promover características dos solos que resistam à erosão, e que promovam a rápida infiltração de água. A ocorrência de períodos prolongados de seca aponta para a necessidade de aumentar a capacidade de armazenamento de água no solo, que possa depois ser disponibilizada às plantas em contexto de escassez. São várias as técnicas que concorrem para estes objetivos, quase sempre promovendo o aumento do teor de matéria orgânica do solo, como a utilização de sementeira direta, a aplicação de fertilizantes orgânicos e de compostados, a rotação de culturas (incluindo fertilização verde) e ainda a aplicação de biochar. Outras técnicas podem ainda ajudar a reduzir a erosão, como a instalação de sebes vivas ao longo de curvas de nível, a construção de bacias de retenção e pequenas barragens, ou o restabelecimento ou restauro de vegetação ripícola ao longo das linhas de água. A PAC dispõe de mecanismos que podem ajudar os agricultores a fazer este tipo de escolhas e que deveriam ser reforçados para atingir estes objetivos. Não colocar os ovos todos na mesma cesta Dificilmente um ano é “bom” ou “mau” para todas as culturas ao mesmo tempo. A diversificação cultural, embora mais exigente do ponto de vista operacional, é também uma estratégia a considerar na adaptação às alterações climáticas, na medida em que permite comA capacidade de retenção de água, a velocidade de infiltração, a resistência à erosão e os nutrientes que este é capaz de fornecer ou reter são características que podem ser modificadas e que dependem criticamente da forma como o solo é gerido. A diversificação cultural, embora mais exigente do ponto de vista operacional, é também uma estratégia a considerar na adaptação às alterações climáticas…
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