As alterações climáticas e a influência no setor agrícola 51 climáticas. As suas condições produtivas serão cada vez mais desafiantes, tornando- -se essencial encontrar soluções de melhor adaptação para as culturas de sequeiro em Portugal. Por exemplo, de acordo com IPCC, 2022, a cultura do trigo tem como fases mais sensíveis ao défice hídrico e térmico os estados fenológicos do enchimento do grão e sobretudo da floração. Estes estados fenológicos ocorrem na altura da primavera, período em que já se verifica atualmente, mas também se prevê para o futuro, as maiores reduções de precipitação. Essas diminuições, associadas a um aumento da temperatura do ar, irão refletir-se num aumento da evapotranspiração cultural e das necessidades hídricas da cultura, que não sendo supridas através da precipitação, levarão a quebras de produção significativas na cultura do trigo de sequeiro. Alguns dos aspetos mais importantes para mitigar e prevenir os impactos das alterações climáticas na agricultura passam por: potenciar a capacidade de retenção de água dos solos agrícolas; reduzir o escoamento da água das chuvas durante o inverno e promover a infiltração; adotar culturas mais adaptadas às novas condições climáticas; aumentar a eficiência de gestão dos recursos hídricos e de aplicação de água de rega. Em relação à área da meteorologia será importante aumentar o horizonte temporal e a resolução espacial da previsão meteorológica, assim como aumentar a capacidade preditiva e reduzir a incerteza dos modelos de previsão de forma a obter modelos ainda mais fiáveis e capazes de melhor se adaptarem às alterações climáticas. A maior frequência de situações de seca que se verifica em Portugal Continental nas últimas décadas é indicativa de um aumento do risco e da vulnerabilidade a este fenómeno, o que tem aumentado os impactos ao nível dos setores agrícola e hidrológico e consequentemente a diversos níveis na sociedade portuguesa. Referências IPCC, 2022. Climate Change 2022: Impacts, Adaptation, and Vulnerability. Contribution of Working Group II to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change [H.-O. Pörtner, D.C. Roberts, M. Tignor, E.S. Poloczanska, K. Mintenbeck, A. Alegría, M. Craig, S. Langsdorf, S. Löschke, V. Möller, A. Okem, B. Rama (eds.)]. Cambridge University Press. Cambridge University Press, Cambridge, UK and New York, NY, USA, 3056 pp., doi:10.1017/9781009325844. Neto, P., 2023. Impacto das alterações climáticas no trigo de sequeiro de outono-inverno. Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Agronómica com especialização em Engenharia Rural. Instituto Superior de Agronomia. Pires, V. Silva A., Mendes L. 2010. Drought Risk in Mainland Portugal. Rev. Territorium, Nº17, pp 27-34. WWf, 2019. “Vulnerabilidade de Portugal à Seca e Escassez de água”. Associação Natureza Portugal em parceria com a World Wild Fund (ANP/WWF). … mitigar e prevenir os impactos das alterações climáticas na agricultura [passa] por: potenciar a capacidade de retenção de água dos solos agrícolas; reduzir o escoamento da água das chuvas … adotar culturas mais adaptadas às novas condições climáticas; aumentar a eficiência de gestão dos recursos hídricos…
RkJQdWJsaXNoZXIy MTgxOTE4Nw==