56 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 31 AGOSTO 2024 – Sequeiro negral e sobro) representa 430 ha (80%); as culturas de outono, para feno, representam 20-30 ha/ano; o efetivo reprodutor é constituído por 120 vacas, 110 ovelhas e 12 éguas. Estamos em Modo de Produção Biológico desde 2014. Como sabemos, os sistemas de sequeiro são marcados pela incerteza da precipitação e da sua distribuição. Por isso, as estratégias de gestão incidem em quatro grupos: i) procedimentos para minimizar os efeitos da irregularidade da chuva; ii) ajuste dos animais e do seu maneio às pastagens de sequeiro (e à temperatura); iii) manutenção de custos baixos (sementeira direta, maquinaria eficiente e ajustada às condições, produção de fenos a baixo custo, maximização da suplementação autoproduzida); e iv) utilização e preservação dos recursos endógenos naturais. No primeiro grupo (i), que é a base, o objetivo é a recuperação e conservação do solo e o aumento da sua capacidade de armazenamento de água – isto significa, na prática, não mobilização (desde há 40 anos) e adoção de outras práticas que melhorem a sua estrutura (aplicação de estrumes, fertilização ajustada, culturas “melhoradoras”). É o processo mais lento, mas é o fundamental. Em relação aos animais (ii), praticamos encabeçamentos baixos, ajustados à produção das pastagens. O indicador é garantir que sobra uma cobertura de pasto seco significativa, no início das chuvas. Lembro-me que há 40 anos tínhamos menos de metade dos animais atuais. Desde então, com as alterações que fomos introduzindo, aumentámos gradualmente o encabeçamento. Porém, com um número reduzido de animais, é preciso garantir o máximo de eficiência por cabeça, ou seja, taxas de fertilidade elevadas, intervalo entre partos baixo e pesos ao desmame altos. Para isso, nas vacas, as cobrições são de outubro a maio; nas ovelhas, usamos duas épocas de cobrição (agosto-setembro e abril-maio). Otimizamos, assim, a alimentação a partir do pasto nos períodos mais críticos, garantindo condições corporais ajustadas aos estados fisiológicos. Das raças que utilizamos, da seleção e dos cruzamentos, falaremos adiante. Os custos (iii) são a componente decisiva que, aliás, constitui a grande diferença para os sistemas em regadio, com custos acrescidos inerentes a essa prática. A nossa estratégia é um controlo cuidado, diminuindo sempre que possível, mas não limitando por esta via a eficiência. Nas pastagens, usamos os destroçadores de martelos para controlo de mato – é fundamental para deixar resíduos que serão incorporados no solo, naturalmente, sem mobilização. As forragens são produzidas onde o solo apresenta menores limitações, ou seja, em nichos que fomos identificando (parcelas entre 1,5 e 10 ha) e que, ao longo dos anos, foram sendo melhoradas com estrumes e fertilizantes. Usamos sementeira direta para duas rotações: tremocilha – cereal-pousio e azevém x trevo balansa – azevém-pousio. O cereal tem variado, na busca daquele que melhor se ajusta à sementeira direta, sem herbicidas. Em 2023, usámos um centeio híbrido que, creio, ser a chave para os nossos solos. Usamos as ovelhas para controlar a vegetação nas parcelas semeadas: pastoreio com cargas elevadas antes e após a sementeira, até ao início da germinação. Nestas áreas de solos pobres, temos recursos endógenos fantásticos (iv) – a flora espontânea das pastagens é muito diversificada, com uma enorme plasticidade de adaptação às variações do clima. Ao longo destes 40 anos, com estas estratégias, observámos um aumento do número de espécies e uma maior densidade, o que explicará em parte o aumento da produtividade e da resiliência das pastagens. Os matos (muitos deles com capacidade de fixação simbiótica do azoto atmosférico) oferecem-nos, para além dos resíduos quando os destroçamos, um complemento alimentar usado diretamente pelos animais em momentos-chave. Outro recurso endógeno importante – a regeneração natural das quercíneas – é aqui fundamental. A sua preservação garante o equilíbrio da estrutura etária do montado e, por outro lado, vamos expandindo, cobrindo as
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