Cultivar_31

O que pensam os agricultores 59 memória de criança-adolescente, recordo que nunca mais senti aqueles dias e dias de frio enregelador no inverno, nem os dias e dias de julho e agosto, em que se podiam “fritar ovos na calçada”. Aquilo que eu sinto é os invernos mais suaves (temperaturas mais altas) e os verões também mais suaves (temperaturas mais baixas, embora com alguns dias com valores altos); ou seja, melhores condições para a agricultura de sequeiro, neste aspeto. Não me recordo de um ano tão bom para fazer fenos, como este ano! Recordo por exemplo, o ano em que comecei a trabalhar (1983) em Vale Formoso (Mértola): tinha sido o sétimo ano consecutivo de seca e as pastagens semeadas tinham perdido a maior parte das espécies, por esgotamento da reserva de sementes duras! Tirando tudo isto, também acredito que toda a sociedade está envolvida na redução de emissões e, a prazo, começaremos a notar esse efeito. O que me preocupa, no curto prazo, na gestão, é a distribuição irregular das chuvas (efeito do anticiclone dos Açores que não “desce” na altura do ano a que estávamos habituados? Ou aumentou de diâmetro?). Por isso, temos um binómio a explorar: aumento da capacidade de armazenamento de água no solo (aumento da matéria orgânica e da estrutura), para contrabalançar o número de dias sem precipitação, combinado com a predominância da vegetação pratense com plasticidade de adaptação e cultivares forrageiras com sistemas radiculares muito extensos (p. ex. centeio), ciclos mais curtos ou resistência à seca. Por outro lado, a combinação das espécies florestais com as pastagens e os animais, é outro fator que dará maior plasticidade aos sistemas de produção animal 4 Depoimento recolhido por entrevista através de meios eletrónicos. Imagens do autor/APAGARBE 5 https://visitmonchique.pt/13188/apagarbe---loja-do-mel-e-do-medronho extensivos e, como tal, aumentará a sua resiliência. Em conclusão, acredito que os sistemas em sequeiro serão os mais robustos e adaptados, de baixo consumo energético e com potencial para manter a eficiência económica e a rendibilidade das explorações. José Paulo Nunes4 O autor junto ao rebento de um sobreiro queimado no incêndio de 2018 e que teve de ser abatido em 2019. Fotografia de 2024 José Paulo Nunes é agricultor e produtor florestal na região de Monchique, Algarve, e presidente da Associação de Produtores de Medronho do Barlavento Algarvio (APAGARBE). Entre outros projetos, a Associação é responsável pela criação, em conjunto com outras associações e entidades locais, da Loja do Mel e do Medronho5, inaugurada em 2011 para promover estes e outros produtos relacionados. 1. Que estratégias utiliza para garantir a continuidade da produção de sequeiro na sua exploração? As minhas propriedades são mais de montado e de medronheiro, nomeadamente, na parcela mais importante. A estratégia que eu utilizo, sobretudo agora, depois da calamidade do incêndio de 2018,

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