60 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 31 AGOSTO 2024 – Sequeiro é utilizar ovelhas para procurar controlar os pastos. Tive de substituir muitas árvores que se perderam – para ter uma ideia, a seguir ao incêndio, em 2019, eu abati 2 600 sobreiras. O que, numa área de mais ou menos100 hectares, é muito relevante. E depois há também o problema de continuar a perder árvores. Muitas ficaram doentes e, embora até pareçam viçosas, com uma boa copa de ramagem, têm o tronco fragilizado, a madeira parece que ficou “cozida” e então, de vez em quando, vai uma ao chão, parte-se pelo meio. É uma coisa a que temos de estar sempre atentos. Aqui na minha zona, há uma renovação extraordinária de sobreiros novos. É isso que nos anima e faz com que continuemos a trabalhar. Vamos também tentando controlar os matos, o que é muito difícil, e atenuar algum possível, Deus queira que não, mas algum possível incêndio que possa vir a acontecer daqui a mais uns tempos. Vamos criando pontos de água e temos feito uma boa rede de estradas e de caminhos para podermos utilizar facilmente. Fizemos algumas plantações de sobreiro e de medronheiro a seguir ao incêndio nas zonas que foram mais devastadas e que não tinham uma densidade adequada. Mas, como disse, estou inserido numa zona, aqui na Serra de Monchique, que tem um grande poder de regeneração natural. Nalgumas áreas, até tenho uma densidade demasiado grande. 6 Tirar a primeira cortiça, a chamada “cortiça virgem”. [Nota da equipa editorial] 7 https://www.esac.pt/ Mas eu penso que o facto de ter retirado alguns dos sobreiros que estavam completamente perdidos fez com que os mais novos rebentassem mais depressa e tenham agora uma pujança maior. Julgo que daqui a 6-8 anos já conseguirei amansar sobreiros6 que nasceram depois do incêndio. Por isso, está a ver que esta é uma zona bastante produtiva. Vamos tentando fazer algum tipo de podas, de encaminhamento dos sobreiros, para ficarem mais direitos e ser mais fácil tirar a cortiça, vamos fazendo alguma manutenção nesse aspeto. O pastoreio é uma coisa que apareceu só depois do incêndio. Aqui há uns anos, tínhamos muito gado, cada família que vivia na propriedade tinha algum gado, vacas, ovelhas, cabras. Infelizmente, agora já não temos essas famílias de quinteiros que partilhavam a exploração. E tivemos de alterar completamente o paradigma. Esses quinteiros faziam uma exploração das hortas, do gado, do medronho, da azeitona. Cada um tinha lá a sua parte e fazia a respetiva exploração. Azeite já não tenho praticamente nenhum, a não ser para consumo próprio, para exploração não. Medronheiro sim, temos uma marca que é o Monte da Lameira. Infelizmente, estivemos parados praticamente cinco anos sem produzir, mas já estamos a produzir novamente em pleno, porque o medronheiro é uma planta que recupera facilmente dos incêndios, até por vezes com mais vigor. Tem é que ser trabalhado, tem de ser limpo e aberto, para reforçar as rebentações. É uma planta mediterrânica preparada para isso. Com o medronheiro o problema está resolvido, com o montado é que é pior. 2. Faz a integração de novos conhecimentos e tecnologias ao nível dos solos, genética vegetal e animal, gestão de recursos, biodiversidade, nas decisões de gestão da sua exploração? Eu tenho uma parceria para um projeto de clones de medronheiro com a Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC)7, que me dá algum apoio em certas
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