Cultivar_31

O que pensam os agricultores 63 3. A viabilidade da exploração agrícola de sequeiro está dependente das políticas públicas (ex. apoios à produção e serviços ambientais) ou de atividades alternativas (ex. floresta, turismo)? A viabilidade da exploração agrícola de sequeiro para além de, cada vez mais, estar dependente da sua área, que tem de, forçosamente, ter dimensão, depende muito do reforço imediato das medidas da Política Agrícola Comum (PAC) ligadas à produção. Se os nossos governantes estiverem verdadeiramente interessados em diminuir a nossa dependência do exterior, nas proporções gigantescas em que Portugal se encontra (95% do trigo que se consome em Portugal para fazer pão é importado), têm de, já no próximo ano agrícola, alterar os montantes das ajudas ligadas dos cereais praganosos para valores equivalentes ao triplo do que existem, porque os atuais, como já está provado, não têm “compradores”! Das atividades alternativas, a mais importante é a transformação de parte das terras de sequeiro em regadio, bastando, para esse efeito, que o atual governo ponha rapidamente em vigor, um programa de apoio, similar ao que já foi praticado ao abrigo da referida Portaria n.º 195/88 de 25 de março. De forma simples e prática como foi esse outro programa que, em meia dúzia de anos, contribuiu para transformar 100 000 hectares de sequeiro em regadio com baixos consumos de m3/ha. 4. Como vê o futuro das explorações e superfície agrícola de sequeiro no nosso país num contexto de alterações climáticas? A resposta a esta 4ª questão, que, parcialmente, já dei no contexto das anteriores, está bem ilustrada no ano agrícola que se pode considerar praticamente terminado. 12 Depoimento recebido por escrito. Imagens do autor/APPITAD 13 https://appitad.com/ Mais anos agrícolas iguais a este, de 2023/2024, em termos de condições climáticas versus quedas pluviométricas, e tudo, ou quase tudo, estaria resolvido. Neste ano, coisa que não via há muitos anos, as produções de cereais praganosos de sequeiro foram similares às que têm sido ajudadas com recurso às águas das barragens já existentes. Como, infelizmente, e como sabemos, são cada vez mais raras estas condições, para que as explorações agrícolas da zona de sequeiro possam subsistir, torna-se imperioso um vasto e significativo plano de construção de novas barragens, privadas e públicas, e vontade política para reforçar, já no ano agrícola de 2024/25, as verbas para aumento considerável das ajudas ligadas à produção de cereais praganosos e de todas as culturas que as acompanham nas suas obrigatórias rotações. Se ambos forem, rapidamente, para não dizer imediatamente postas em vigor, talvez ainda tenha tempo para ver os seus resultados, porque acredito que ainda há pessoas ligadas à terra com força e vontade de andarem para a frente. Francisco Ataíde Pavão12 Francisco Ataíde Pavão é presidente da direção da APPITAD – Associação dos Produtores em Protecção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro13, vice-presidente da Confederação de Agricultores Portugueses (CAP) e um experiente provador de azeites, participando em diversos concursos a nível nacional e internacional. É engenheiro agrónomo, com pós-graduação em olivicultura e azeite pelo Instituto Superior de Agronomia (ISA), tendo assumido ao longo da vida diversas responsabilidades ligadas à gestão do olival e à produção de azeite. É também, até 13 de setembro, presidente da Comissão Vitivinícola Regional de Trás-os-Montes.

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