Cultivar_31

67 Caracterização da agricultura de sequeiro em Portugal RUI TRINDADE, RUI PEREIRA E DAVID SOUSA Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP) A agricultura de sequeiro em Portugal é uma prática tradicional de adaptação da produção agrícola às condições naturais do território, baseada na utilização exclusiva da água da chuva para a irrigação, que tem um papel fundamental na economia e sustentabilidade de certos territórios. Este tipo de agricultura é comum por todo o território nacional, mas apresenta particular predominância nas regiões interiores e sul, nomeadamente nas regiões agrárias de Trás- -os-Montes, Beira Interior, Alentejo e Algarve, onde a disponibilidade de água, quer pelas condições edafoclimáticas, quer pelas infraestruturas de regadio existentes, não permite a implementação de outros tipos de sistemas de produção mais intensivos. Nestas regiões os produtores agrícolas enfrentam, tradicionalmente, desafios em matéria de escassez de água, pobreza dos solos, condições climatéricas extremas e muito variáveis, que têm vindo a ser agravadas pelos impactos derivados das alterações climáticas. Ou seja, ainda maior variabilidade de condições associada a fenómenos extremos. Estes territórios apresentam também uma elevada diversidade de condições edafoclimáticas, mas, de uma forma geral, caracterizam-se, a sul, por um clima mediterrâneo de influência continental no Alentejo, com verões de temperaturas elevadas, secos, luminosidade forte, grande insolação (que favorece o cultivo de plantas adaptadas à seca e ao calor), concentração de chuva no final do outono e começo do inverno, solos pouco profundos, de textura arenosa com baixa capacidade de retenção de água, ácidos e pobres em matéria orgânica, sendo mais variados no Algarve, onde se incluem solos calcários, argilosos, arenosos. As regiões do interior norte e centro caracterizam-se por um clima mediterrâneo com influências continentais em que os verões são quentes e secos e os invernos frios, com geadas que afetam as culturas, e mais chuvosos que no Sul, com precipitações que variam entre os 500 mm e os 1 200 mm anuais com distribuição sazonal no outono e inverno. Os solos são geralmente graníticos ou xistosos, sendo pedregosos em algumas áreas de Trás-os-Montes e argilosos e arenosos na Beira Interior, têm uma capacidade de retenção de água variável e grande exposição ao vento devido ao relevo acidentado. Assim, em termos gerais, as elevadas temperaturas nestas regiões durante o verão aumentam a evapotranspiração, reduzindo a disponibilidade de água no solo, que tem baixa e média capacidade de retenção e é pouco fértil. Por outro lado, a precipitação irregular e escassa no período crítico de crescimento das culturas afeta a produtividade.

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