Cultivar_31

68 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 31 AGOSTO 2024 – Sequeiro Face a estas condições naturais, e no contexto de outros fatores como a estrutura da propriedade ou os estímulos das políticas públicas, os produtores têm adotado estratégias específicas para reforçar a sustentabilidade destes sistemas de produção de sequeiro, nomeadamente: diversificação de atividades na exploração agrícola para diluir o risco; aproveitamento do espaço em vários níveis (de que o montado ou os sistemas de pastoreio em olivais são exemplo); utilização, nas culturas anuais, de ciclos culturais de sementeira no outono/inverno para aproveitamento do ciclo de crescimento vegetativo associado a este período; utilização de variedades de sementes mais resistentes a estas condições adversas; reforço dos processos de extensificação, reduzindo custos; ou aproveitamento de culturas mais adaptadas a estes tipos de condições, como é o caso de algumas culturas permanentes − olival e vinha; a que se acrescenta técnicas de conservação do solo essenciais para mitigar estas difíceis condições naturais. Este tipo de ocupação, a agricultura de sequeiro, é a base para um conjunto alargado de sistemas de produção, práticas de ações humanizadas com uma história centenária de adaptação às condições naturais de cada território, que desempenham um papel relevante, quer efetivo, quer potencial, na ocupação do território, fixando pessoas em regiões mais remotas, na produção de bens alimentares, e acima de tudo, na preservação do ambiente e na gestão do território e manutenção de paisagens, nomeadamente no suporte à biodiversidade e na fixação de carbono no solo através do potencial de aumento do nível de matéria orgânica no solo. Para além disso, estes sistemas de produção são implementados em zonas onde, por razões várias, não existem alternativas sustentáveis de gestão do solo, sendo que o abandono colocaria em causa habitats reconhecidos. Neste artigo, pretende-se apresentar uma análise dos dados estatísticos disponíveis, nomeadamente através dos recenseamentos da agricultura, que permita caracterizar, de alguma forma, os principais sistemas de agricultura de sequeiro. 1 Ver gráficos no anexo, no final do artigo, com a superfície de todas as culturas. Superfície agrícola e de sequeiro Considerando a superfície de sequeiro como área não regada artificialmente, a mesma é composta pela Superfície Agrícola Utilizada (SAU) subtraída da superfície regada. Assim, com base na informação disponibilizada pelo Recenseamento Agrícola (RA) do Instituto Nacional de Estatística (INE), a SAU em Portugal, em 2019, era de 3 963 945 ha, dos quais 3 425 430 ha correspondiam a área de sequeiro (cerca de 86%) e 566 203 ha a superfície regada (14%). Pela observação da Figura 1, cerca de 60% da superfície de sequeiro corresponde a prados e pastagens permanentes (51% do total da SAU), 18% dizem respeito a culturas permanentes (15% do total de SAU), 16% são culturas temporárias (14% do total) e 6% corresponde a pousio (6% do total). As culturas da superfície de sequeiro1 Como já referido, cerca de 60% da superfície de sequeiro é composta por prados e pastagens permanentes correspondentes a 2,04 milhões de hectares. Quase 97% da área das culturas permanentes de sequeiro é de olival, frutos de casca rija e vinha, ocupando 585 mil hectares dos 605 mil, que representam 18% deste tipo de agricultura (Figura 2). A superfície das culturas temporárias de sequeiro em cultura principal totalizava em 2019, 551 mil hectares e representava 16% do total de área de sequeiro; cerca de 95% diz respeito a culturas forrageiras, cereais para grão e prados temporários. A área de Figura 1 – Superfície Agrícola Utilizada e superfície de sequeiro em Portugal em 2019 Fonte: INE, RA2019 51% 15% 14% 6% Sequeiro 86% Regada 14% SAU 3 963 945 ha 60% 18% 16% 6% Sup. sequeiro 3 425 430 ha Prados e pastag. permanentes Culturas permanentes Culturas temporárias Pousio Prados e pastag. permanentes Culturas permanentes Culturas temporárias Pousio

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