8 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 31 AGOSTO 2024 – Sequeiro fontes de financiamento para a valorização do solo (clima), água (infraestruturas) e biodiversidade, deve ser de uma atuação coerente e consequente na (re) vitalização destes territórios rurais. Neste caminho, o papel dos agricultores é essencial e, como se pode ler nesta edição, são várias as estratégias e o engenho demonstrados nos exemplos de explorações que selecionámos e em que a gestão em escala se afigura essencial. Como dizem os agricultores que ouvimos para esta edição, é preciso por um lado, perceber qual é a melhor solução para cada terreno, atentos à sua natureza, e, por outro lado, compreender que estes são sistemas robustos, adaptáveis e com menos custos associados, se apostarmos, por um lado, na tecnologia e no conhecimento e, por outro lado, no caráter multifuncional da agricultura e do espaço rural. Nos vários testemunhos técnicos e dos agricultores sobressai que o Sequeiro faz parte de um futuro sustentável da agricultura e da alimentação não só em Portugal, mas também em grande parte do planeta. A abrir a secção Grandes Tendências, Maria Helena Semedo, da FAO, traça o panorama da agricultura de sequeiro no mundo e dos desafios que enfrenta, em particular com a agravante das alterações climáticas. Afirma a importância da gestão da escassez de água numa abordagem múltipla, apresentando os diversos programas da FAO dedicados a esta temática um pouco por todo o globo. Refere métodos tradicionais e tecnológicos para melhorar a produtividade deste tipo de agricultura, não esquecendo o importante papel das florestas e das árvores. Ao longo do artigo, a autora cita inúmeros exemplos de casos de sucesso, salientando também a importância da partilha de dados e informação. Conclui afirmando que “as soluções técnicas e de gestão devem ser incluídas em abordagens holísticas integradas, apoiadas por políticas e medidas adequadas e sustentadas por incentivos e investimentos financeiros. Temos de ser inclusivos, transparentes e transversais.” O artigo de João Madeira faz uma análise abrangente das questões levantadas à viabilidade de uma exploração de sequeiro no Sul do país, relevando por um lado a importância da mudança climática e, por outro lado, a necessidade de a resposta passar por uma boa gestão dos recursos naturais existentes, nomeadamente um dos mais cruciais: “um solo bem preservado, rico em matéria orgânica e com porosidade significativa oferecerá, em princípio, uma elevada capacidade de retenção de água”. Reflete sobre as melhores estratégias para atingir o objetivo da viabilidade, tanto em termos da gestão feita pelos agricultores, como dos efeitos das políticas públicas e das dinâmicas que estas estabelecem com a produção. Não esquece que “um problema com este grau de complexidade não poderá ter soluções simples, nem tão-pouco soluções singulares”, concluindo com uma pergunta fundamental a que a sociedade deverá responder previamente na abordagem a estas questões: “quanto custa um território vazio?” Paulo Canaveira, do MARETEC e do LEAF/TERRA, descreve os problemas que a agricultura de sequeiro coloca a quem a pratica, agravados com a perspetiva da mudança climática. Logo de seguida, porém, interroga: “Mas significa isto o fim da agricultura de sequeiro em Portugal? Boa parte da resposta estará em fazer ou não ‘tudo igual’. Que podemos então fazer de diferente?”, apresentando uma lista consistente de soluções. “Embora o regadio possa parecer a solução evidente”, o autor esclarece que não só ele não é extensível a todo o país, mas também tem desvantagens, ainda que soluções intermédias de regas pontuais possam ser consideradas. Outras soluções que preconiza incluem: o “desenvolvimento de culturas Montado com vacas em pastoreio sob coberto, Assumar, Monforte, Portalegre, 2005 Fotografia de Afonso Alves Acervo do GPP
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