Cultivar_31

82 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 31 AGOSTO 2024 – Sequeiro (como o trigo e a cevada), ou culturas permanentes como as oliveiras, amendoeiras, nogueiras e a vinha. As leguminosas em grão (fava ou grão-de-bico) e de forragem (alfafa, ervilhaca) estão também presentes, fazendo parte dos esquemas de rotação mais comuns. As culturas em sequeiro dependem estritamente da precipitação. Visto que esta é inerentemente variável, a agricultura de sequeiro baseia‐se implicitamente em sistemas de poupança de água e no aproveitamento máximo das potencialidades do solo. Ora, existem técnicas de cultivo específicas que ajudam à retenção e poupança de água e permitem um uso mais eficaz e eficiente da limitada humidade do solo. Portanto, a gestão do solo é uma determinante crítica da sustentabilidade na agricultura de sequeiro e, desde logo, todas as técnicas de conservação e de restauração dos solos são fundamentais. Só a conservação do solo garante condições ótimas na zona de desenvolvimento da raiz, incluindo a disponibilidade de água, sendo a adição de matéria orgânica, na forma de resíduos das culturas, estrume e outros, muito importante para melhorar essa estrutura do solo. Por outro lado, os danos mecânicos ao nível da estrutura do solo, provocados por mobilizações intensas e outros tipos de práticas culturais podem ser minimizados com recurso a técnicas como a mobilização segundo as curvas de nível, a mobilização mínima e a sementeira direta, que reduzem a probabilidade de erosão em áreas declivosas e promovem a acumulação de matéria orgânica. Práticas tradicionais, tais como deixar o solo em pousio para melhorar a capacidade de retenção de água, são também importantes. A rotação ou diversificação de culturas desempenha um papel igualmente relevante nos sistemas de cultivo sustentáveis, pela capacidade de contrariar a propagação de insetos nocivos e doenças, bem como a expansão de infestantes. Esses resultados tornam-se ainda mais signi1 Ver Cultivar N.º 30 – Melhoramento e técnicas genómicas: https://www.gpp.pt/images/GPP/O_que_disponibilizamos/Publicacoes/CULTIVAR_30/ [Nota da equipa editorial] ficativos com a inclusão de culturas de leguminosas, fixadoras do azoto atmosférico e por isso com um papel chave na melhoria da fertilidade do solo. Estas práticas devem, pois, ser incentivadas. A agricultura de sequeiro depende fortemente de variedades locais e/ou ecótipos que estão bem-adaptados a estes ambientes específicos e que contribuem significativamente para a manutenção da biodiversidade vegetal, pelo que a preservação dos recursos genéticos, mas igualmente o seu melhoramento, são essenciais na viabilidade destes sistemas. As novas técnicas genómicas podem ser poderosas ferramentas para transferir traços (características) de tolerância a ambientes de baixos inputs, nomeadamente de pouca e irregular precipitação. Avanços recentes em genética molecular abriram novas perspetivas nesta área1. Nas culturas permanentes, como por exemplo o olival de sequeiro, as medidas de gestão do solo que reduzem a erosão incluem algumas das práticas referidas, nomeadamente, as mobilizações ao longo das curvas de nível, a colheita em faixas e/ou socalcos, ou as mobilizações mínimas com controlo químico das ervas. Também contribui para reduzir a erosão a não mobilização, com cobertura vegetal total ou em bandas vegetativas, a cultura de cobertura temporária ou vegetação natural durante o período mais húmido do ano, seguido por um corte durante o período seco, limitando assim significativamente a competição por água. O uso de socalcos e/ou barreiras para abrandar a água de escorrência em áreas acidentadas, além de inter‐cultivo com leguminosas, mobilizações mínimas e podas mínimas, contribuem igualmente para essa redução da erosão e melhoram a sustentabilidade a longo prazo da produção nas áreas mais suscetíveis. As pastagens de sequeiro, naturais ou semeadas, permanentes ou temporárias (e inseridas em rotações) são uma base importante para uma produção

RkJQdWJsaXNoZXIy MTgxOTE4Nw==