Cultivar_31

92 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 31 AGOSTO 2024 – Sequeiro ● Estrutura da propriedade fundiária dominada por médias/pequenas propriedades, resultante do aforamento do Baldio da Serra de Serpa no princípio do século XX, ● Explorações predominantes do tipo familiar, ● Formas predominantes de povoamento humano: Pequenos povoados e montes dispersos, ● Saberes-fazer tradicionais e outro património cultural imaterial associado, Formas tradicionais de arquitetura popular tradicional, construção em terra. 1. Caracterização do sistema produtivo 1.1. Estrutura Estrato arbóreo Os montados constituem povoamentos, que em ciência florestal se denominam jardinados; coexistem no mesmo espaço árvores de diferentes idades e estádios de desenvolvimento, jovens, adultas e velhas. Devemos, portanto, caracterizar os montados numa perspectiva horizontal e numa perspectiva vertical. Na perspectiva horizontal, os montados de sobro são, como norma, mais densos que os montados de azinho. Digamos que estes últimos têm uma densidade que varia entre as 15 e as 40 árvores por hectare, enquanto os montados de sobro têm uma densidade que varia entre 30 e 100 árvores por hectare (média de 60 árvores). Na perspectiva vertical, vamos encontrar árvores de diferente dimensão, sendo que os nascedios provêm da regeneração natural e são de uma importância enorme, pois constituem a garantia do futuro dos povoamentos. Aos juvenis chamam na região “machucos” e aos jovens antes da idade adulta chamam “chaparros”. O objetivo principal da gestão dos sobreiros é a produção de cortiça, tirada em períodos médios de 9 anos. O trabalho em grupo, próprio de um leque variado de atividades rurais, também é característico da operação da tiragem da cortiça, com tarefas bem diferenciadas por distintos operadores, desde o tirador ao ajuntador, ao tratorista, à coqueira, que prepara o rancho, até ao marcador. Com os tiradores colaboram os denominados ajudas que estão na fase de aprendizagem. A tiragem exige uma destreza muito apurada para não ferir a árvore, tirar as maiores pranchas possíveis e reconhecer se a árvore já está em condições para se tirar a cortiça. A desbóia, tiragem da cortiça virgem, só se deve operar quando o tronco já tem a grossura suficiente estipulada por lei. A gestão das azinheiras tem como principal objetivo a produção de bolota para a engorda dos porcos em montanheira. Estrato arbustivo O montado diferencia-se pelo facto de, em estado normal, na maior parte da área estar ausente o estrato arbustivo, que abafa o estrato herbáceo e concorre pela água e pelos nutrientes com o estrato arbustivo. Constitui preocupação central dos proprietários/ gestores do montado definir o modelo de controlo do mato. Antigamente, o mato arrancava-se à mão (péla), mas atualmente é usual fazer mobilização periódica do solo ou recorre-se a corta-matos, menos agressivos para o meio. Um modelo proposto consiste em instalar pastagens semeadas, melhoradas, o que permite o controlo do mato, mas reduz a componente da regeneração natural (árvores jovens espontâneas). Um objetivo importante na exploração de muitos montados é a caça; nesse caso, a componente dos matos deve ter uma gestão diferente, ou seja, é importante manter áreas de matos para refúgio das espécies cinegéticas. A gestão dos matos é importante para a caça e a apicultura.

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