O Montado da Serra de Serpa 93 Estrato herbáceo Atualmente, o estrato herbáceo (culturas arvenses e pastagens naturais) está quase confinado à produção forrageira destinada à produção pecuária. A alimentação dos animais nos montados é assegurada pelas pastagens naturais, ervas espontâneas, pelas pastagens semeadas e pelas bolotas fornecidas pelas azinheiras e pela lande fornecida pelos sobreiros. Antes, semeavam-se grandes áreas com trigo; na atualidade, é usual semear cereais secundários para a alimentação animal, aveia, cevada, triticale e algum sorgo. A componente animal O animal por excelência do montado é o porco de raça Alentejana, que se engorda com bolotas e landes, a denominada montanheira. Este é um sistema sui generis, só possível de observar na Península Ibérica. Dos animais engordados neste sistema obtêm-se produtos de alta qualidade, os célebres presuntos “Pata negra” de Barrancos e enchidos variados. A montanheira é o nome que se dá à criação do porco Alentejano em regime de pastoreio nos montados. Comem erva, raízes, ovos e pequenos animais no período inverno/ primavera e a engorda faz-se de outubro a fevereiro com os frutos das azinheiras (bolota) e dos sobreiros (lande). No verão, comem cereais. A montanheira pratica-se quando se dispões de área suficiente para praticar o pastoreio das varas (conjunto dos porcos em engorda). O sistema de montanheira implica um conjunto complexo de atividades e de saberes muito apurados no maneio do gado. As reprodutoras com as respectivas crias têm um maneio próprio, à parte do restante efetivo. Ficam em ambiente confinado e comem alimentos concentrados, como milho e cereais. O desmame dá-se quando os leitões têm dois meses. Depois constituem efetivo com maneio independente, vão para a recria já podendo ir para o campo. Na primeira fase, denominam-se bácoros, com cerca de 10/12 meses denominam-se alfeires e são destinados uns para abate para carne fresca, com alimentação concentrada, outros para engorda em montanheira, integrando as denominadas varas. As varas são constituídas por animais de 18 meses, em média. Há, portanto, três conjuntos independentes de animais geridos em separado. A outra espécie animal por excelência dos montados é a ovina, criada em regímen manadio, em pastoreio. As raças autóctones são patrimónios valiosos: a ovelha Campaniça, a Merina Branca, a Merina Preta. Em consequência da política de subsídios aplicada pela União Europeia (UE), que privilegia os bovinos, estes surgiram nos montados recentemente, aumentando significativamente a respectiva presença de dia para dia. No entender de inúmeros peritos, os bovinos causam danos no arvoredo que as outras espécies não causam, ou não causam de forma tão intensa. 1.2. Funcionamento do sistema produtivo Sendo unidades produtivas relativamente mais pequenas que nas restantes regiões com montado, a sua resiliência, que lhe permitiu resistir até ao presente, assenta na diversidade de atividades produtivas exercidas nessas unidades. Estão presentes espaços com arvoredo mais ou menos denso, parcelas de terra limpa e/ou com arvoredo disperso, parcelas com pastagens pobres e matos em terra desarborizada. Nas explorações mais diversificadas, podemos encontrar junto ao centro de lavoura, com a respectiva casa de habitação, o olival, a pequena horta com árvores de fruto, as quais também podem aparecer dispersas no olival. No Alentejo, a criação de animais em regime de pastoreio extensivo percorre todos os espaços, desde o montado ao sobcoberto do olival, aos pousios e restolhos dos cereais e às pastagens pobres com matos nos terrenos mais pobres.
RkJQdWJsaXNoZXIy MTgxOTE4Nw==