Sequeiro, viticultura e fruticultura 99 Fruticultura em sequeiro na região Oeste Pera Rocha do Oeste e Maçã de Alcobaça ARMANDO TORRES PAULO E JORGE SOARES Agrónomos, fruticultores e como tal Guardiões da Natureza Foi-nos pedido um breve contributo sobre como produzir fruta, só com a “água que cai do céu nas vastas extensões territoriais que não são passíveis de irrigação”. A imediata resposta que nos ocorreu foi simples: Sim, é possível produzir fruta sem regar, mas em termos empresariais não seremos competitivos ao produzir sem irrigação. Enquanto técnicos e fruticultores, sabemos que os frutos que produzimos nas nossas explorações agrícolas (essencialmente as peras e as maçãs) são constituídas em cerca de 85% por água. E sabemos também que, para não sermos derrotados nos mercados, teremos de produzir quantidades significativas, visto que produzir qualidade não é suficiente para a continuidade duma empresa agrícola. Mas como o artigo a redigir não deveria ficar por estas simples e corretas constatações, fomos obrigados a escrever algo mais e a desenvolver um pouco a função primordial da água na eficiência produtiva dum organismo vivo que, neste caso, é uma planta que queremos que produza frutos. E as plantas são como os humanos – para serem eficientes e competitivas, como um atleta, precisam de estar em boa forma física. Existem dois fatores essenciais para atingir esse bom nível – a luz solar que lhes fornece energia e a água. Serão três, as questões-base que se colocam para analisar e dar resposta à pergunta sobre a necessidade de irrigar pomares: — As fruteiras necessitam de água para produzir frutos? — Esses territórios dispõem de solos e condições climáticas próprias para fruticultura? — O único fator limitante a esta atividade económica é a falta de água? Se às três questões colocadas a resposta for um “Sim”, parece-nos que a solução óbvia será levar água para esse território, bastando fazê-lo de onde essa água existe em abundância para os territórios onde é escassa. Cada um de nós recebe em sua casa energia que é produzida noutras regiões, e a rede de distribuição chega hoje a quase todos os lares. Uma quebra desse fornecimento lançará o caos em qualquer atividade. Hoje em dia, a ligação da atividade agrícola com a água é tão estreita como a dependência que cada um nós tem, no seu dia a dia, das fontes de energia. Colocou-se-nos então a seguinte questão: se a solução é simplesmente levar água para os territórios onde faz falta, porque será que tal ainda não foi plenamente concretizado no nosso país? Será que não chove o suficiente em Portugal para satisfazer as necessidades das culturas? A resposta é “Não”, pois a pluviosidade é muito superior às necessidades. A pluviosidade anual média é da ordem dos 800 mm, embora seja bem superior em algumas regiões do Norte de Portugal e bem mais escassa no Sul. Por outro lado, as quantidades de água que caem do céu são superiores à evapotranspiração anual. Em termos de abastecimento de água, Portugal tem uma grande fonte – a nossa vizinha Espanha. Algumas correntes de opinião teimam em inverter a realidade e apresentam o país vizinho como uma limitação aos nossos recursos hídricos, quando na realidade quatro dos cinco grandes rios portugueses têm a sua nascente em Espanha e trazem-nos significativos hectómetros cúbicos. De facto, as diversas regiões de Espanha que confinam connosco constituem um significativo manancial de água. Se nos quiséssemos lamuriar, teríamos sim razão para o fazer, porque os rios a norte do Tejo descarregam no mar sessenta por cento da sua água, o que
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