Cultivar_32

20 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 32 DEZEMBRO 2024 – Cooperativas reflete a capacidade de adaptação e a polivalência do modelo cooperativo no setor agrícola. As cooperativas agrícolas beneficiam de um quadro jurídico específico, decorrente dos princípios estabelecidos pela lei de 1947, que lhes confere um carácter sui generis, distinto do das outras sociedades cooperativas. Nos anos que se seguem à Segunda Guerra Mundial, o modelo cooperativo desempenha um papel inegável na rápida modernização do setor agrícola de que a França necessitava para recuperar a sua soberania alimentar. O aparecimento das estruturas particulares que são as Cooperativas de Utilização de Maquinaria Agrícola (CUMA) e a sua rápida expansão (mais de 11 000 destas estruturas em 1960) permitem a disseminação e a utilização das primeiras máquinas a um custo mais baixo, através da mutualização e, em última análise, a mecanização do setor agrícola. Durante este período de crescimento e de desenvolvimento, o número de cooperativas em França explode (15 000 em 1955, contra 2 000 em 1900) e a sua finalidade evolui. Além da proteção e defesa dos agricultores, as cooperativas passam também a desempenhar um papel na orientação e regulação da produção e, no último terço do século XX, na modernização do setor para aumentar a produção e a eficiência dos fatores capital e trabalho nas explorações (Valiorgue, 2020). Pouco a pouco, o movimento cooperativo vai estruturar-se e agrupar-se em diversos grandes atores nacionais que, hoje integrados em agrupamentos ainda mais vastos, continuam a dominar o mercado francês. Atualmente, o cooperativismo agrícola continua a ser um ator importante no setor agroalimentar francês. 75% dos agricultores pertencem a uma das 2 100 sociedades cooperativas agrícolas ou 11 000 CUMA presentes em todo o território. Estas estruturas geram um total de 190 000 empregos e um volume de negócios consolidado de 118 mil milhões de euros em 2023, ou seja, quase 40% do volume de negócios do agroalimentar. Por exemplo, seis em cada dez marcas de produtos alimentares pertencem a cooperativas e uma em cada duas garrafas de vinho provém de adegas cooperativas. As cooperativas desempenham um papel essencial na estruturação das fileiras agrícolas, graças à sua atividade em quase todos os tipos de produção e à sua quota de mercado dominante em várias dessas fileiras (90% na carne de suíno, 85% na transformação de beterraba sacarina, 60% na produção de aves de capoeira, 55% na recolha de leite, ...). Devido à sua implantação, as cooperativas são um instrumento de ordenamento do território e uma alavanca importante do dinamismo económico e social das zonas rurais. Segundo a Coopération Agricole (associação nacional das cooperativas em França), as cooperativas são o primeiro empregador privado nos territórios rurais. Como não podem ser deslocalizadas, estabelecem e desenvolvem a sua atividade nas zonas onde estão implantadas e criam empregos diretos e indiretos desde a montante da produção até à transformação e venda de produtos acabados. Neste sentido, as cooperativas constituem uma defesa contra o declínio das zonas rurais. Permanecem muitas vezes ativas em zonas onde as empresas privadas tradicionais têm pouca ou nenhuma presença, devido à falta de rentabilidade. É o caso, nomeadamente, do setor leiteiro: as cooperativas são, por vezes, as últimas a recolher o leite quando as condições de recolha se tornam demasiado onerosas, ou quando o número reduzido de produtores já não permite a otimização das instalações de transformação, como acontece nas zonas de montanha. Ao manterem uma atividade económica nas zonas rurais, as cooperativas ajudam a preservar o saber-fazer e contribuem indiretamente para a sobrevivência de serviços fundamentais e de uma Devido à sua implantação, as cooperativas são um instrumento de ordenamento do território e uma alavanca importante do dinamismo económico e social das zonas rurais. Perante a intensificação da concorrência internacional, entre 1990 e 2010, as cooperativas francesas iniciaram um processo de concentração e constituição de filiais …

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