44 CADERNOS DE ANÁLISE E PROSPETIVA CULTIVAR N.º 32 DEZEMBRO 2024 – Cooperativas porção elevada de produtores individuais, limitando, por este motivo, ganhos de escala e aumentos nos níveis de produtividade. Assistimos a uma fragmentação contínua e persistente da oferta, que tem criado graves desequilíbrios no interior das cadeias agroalimentares, agravados pela concentração crescente da grande distribuição. Neste contexto, verifica-se que as diferenças de poder negocial entre os elos da cadeia produtiva têm desafiado a sustentabilidade económica e financeira dos produtores agrícolas. A acrescer, a volatilidade dos preços dos fatores de produção, intimamente relacionada com a crescente globalização dos mercados, tem agravado de forma significativa os desafios à atividade agrícola em Portugal. Neste contexto, as cooperativas agrícolas assumem-se cada vez mais como um importante agente mobilizador de recursos naturais e de matérias-primas, de competências, de conhecimento e de capacidade de inovação que permitem explorar o significativo potencial produtivo das explorações de menor dimensão. Para além de assegurarem o aprovisionamento de fatores de produção e de um conjunto de serviços de apoio técnico aos seus associados (garantindo que os agricultores dispõem das condições necessárias para exercerem a sua atividade), as cooperativas encerram um enorme potencial de concentração da oferta e valorização da produção, permitindo responder às exigências de aumento de escala e atenuar as diferenças de poder negocial entre os vários elos da cadeia produtiva. Ao estimular uma relação económica mais equilibrada com a cadeia de valor agroalimentar e dotar os produtores agrícolas das condições necessárias à sua atividade, o setor cooperativo assume uma posição central no reforço da competitividade e no desenvolvimento sustentado do setor agrícola em Portugal. O setor cooperativo agrícola, dada a sua extensa implementação territorial, encerra um enorme potencial de concentração da produção, reequilibrando o poder negocial no interior da cadeia alimentar, pelo que as cooperativas se destacam enquanto elementos basilares e “vertebradores” do desenvolvimento e coesão territorial. A restruturação e o redimensionamento do setor cooperativo é, por esta via, essencial para o reforço da sustentabilidade, competitividade e internacionalização de toda a fileira agrícola nacional. O anterior período de programação pautou-se pela inexistência de medidas estritamente vocacionadas para o setor cooperativo e se, pelo menos no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR), existe um conjunto de medidas alinhadas com algumas das necessidades do setor, elas revelam-se, em larga medida, insuficientes e pouco adaptadas à realidade específica das cooperativas. Sem prejuízo da participação de cooperativas noutros mecanismos de apoio já existentes, considera-se muito pertinente o desenvolvimento de um conjunto complementar e diverso de instrumentos económicos e financeiros, com dotação específica, direcionados especificamente para a transformação do setor cooperativo nacional em estruturas dimensionadas e qualificadas para se adaptarem adequadamente ao contexto atual e às necessidades do mercado global. É, assim, fundamental criar medidas de capacitação institucional exclusivas para as cooperativas, sem excluir as empresas que integram grupos empresariais cooperativos. Em detalhe, os mecanismos de apoio a mobilizar deverão contribuir ativamente para alavancar ope- … as cooperativas agrícolas assumem-se cada vez mais como um importante agente mobilizador de recursos naturais e de matériasprimas, de competências, de conhecimento e de capacidade de inovação que permitem explorar o significativo potencial produtivo das explorações de menor dimensão.
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